quinta-feira, 30 de junho de 2022

Motivos para agradecer e ser feliz - a lista de junho

 * 1@ etapa da Ação entre Amigos 2022 realizada com sucesso. Meta alcançada em menos de uma semana. O sorteio será antecipado para o dia 16 de julho.

* Prêmios lindos, mãos operosas em favor do bem e do amor. Janaina Samel fez a doação de 2 capas de travesseiro em patchwork; Gorethi mandou 2 almofadas de crochê maravilhosas e mamãe fez o enchimento; Dani Campanário doou um ferro elétrico e a Viviane Machado vai incrementar com um cestinho para pregadores; Joelma vai fazer doce de casca de laranja para incrementar o café com bolo; Samel vai fazer uma toalhinha de mão para incrementar a nécessaire. Isso tem enorme valor!

* Apresentação do banner no Simpósio da Fasap. "Assumindo a encrenca".

* Trabalhos maravilhosos na faculdade, semestre concluído com louvor.

* Roupão e pijama de fleece (aquele tecido leve, fofo e quentinho) feitos pela minha mãe. Herança preciosa.

* A obra da rua enfim avançou bastante e contornou o solar! Agora só falta uma rua e os acabamentos.

* As rosas de palha de milho finalmente chegaram de Felisburgo. Marijane chegou de Jequitinhonha e trouxe para mim. Lindíssimas.

* Nícolas fez 11. Teve bolo, claro!

* Fomos à Raposo no dia 04 para buscar a maçã e a bandeja. A "saga" mereceu registro no blog.

* Daniel aportou no solar  .

* Aniversário da minha irmã. Almoço em família. 

* Revisão médica da mamãe em Muriaé. Tudo ok, graças a Deus.


sexta-feira, 24 de junho de 2022

Trabalho da Faculdade de Psicologia (Projeto Integrador)

 DIVERSIDADE SEXUAL E DE GÊNERO:

ABORDAGEM SOBRE A EXPERIÊNCIA DA PSICOLOGIA

NO CENTRO DE ATENDIMENTO PSICOSSOCIAL (CAPS)


Alessandra Barros Cretton

Angelita Costa Freitas

Silvana Jorge Ramos


Resumo: Este artigo traz à análise e reflexão o atendimento da população LGBTQI+ nos Centros de Atendimento Psicossocial (CAPS), com um recorte particular ao CAPS de Santo Antônio de Pádua e Miracema, municípios vizinhos na região Noroeste Fluminense. Os Centros de Atenção Psicossocial são unidades da estrutura de atendimento da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) especializadas em saúde mental para tratamento e reinserção social de pessoas com transtorno mental grave e persistente. Os centros oferecem um atendimento interdisciplinar com objetivo de promover um tratamento efetivo e principalmente, humanizado. Apesar de a população LGBTQI+ não se enquadrar como sujeitos com patologias, o processo de sofrimento ainda a acompanha, visto que continua subjugada às mais diversas formas de violência, tornando-se predisposta a um maior sofrimento mental. Dessa forma, constatou-se a importância do acesso à saúde mental, bem como aos serviços oferecidos, em especial o CAPS, realçando o espaço ocupado por essa população dentro desse dispositivo assistencial, com vistas a um trabalho profissional em que prevaleça a não discriminação e eliminação de todas as formas de preconceitos.

Palavras-chave: Diversidade Sexual e de Gênero; Psicologia; Saúde Mental


INTRODUÇÃO

Historicamente as diversidades no campo das sexualidades e dos gêneros foram tratadas sob uma ótica conservadora, moralista, com enfoque negativo e de punição. Com isso, ao longo dos séculos diversas instituições tentaram enquadrá-las como patologia. Vítimas dos mais diversos tipos de agressões e perseguições por sociedades e culturas que propagavam o heterosexismo e a heteronormatividade como verdades absolutas e incontestáveis, eram tratadas como loucas, criminosas, abjetas e pecadoras. No Brasil, assim como na maioria dos outros países, essa realidade hostil não se deu de maneira distinta. 

No entanto, a exposição constante a diversos tipos de agressões fez crescer um movimento de contestação, cuja pauta era a liberdade de orientação sexual e de gênero e, de fato, em 1990 a homossexualidade foi retirada do Catálogo Internacional de Doenças (CID) na sua 10ª edição (CID-10), pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Assim, as lésbicas e os gays deixaram de ser considerados doentes mentais, que necessitavam de uma intervenção médico-psiquiátrica e, algumas vezes, tratamento manicomial. 

Em 2001, o Brasil deu um grande passo na concepção da saúde mental, com a publicação da Lei 10.216/2001, que instituiu a Política Nacional de Saúde Mental, na qual a denominação “doente mental” passa a não ser mais adotada, sendo substituída por transtorno mental (BRASIL, 2001). Tal mudança significou um dos muitos avanços na busca pela garantia da cidadania destas pessoas. Em seu Art. 1º define que: 

Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, que trata esta Lei, são assegurados sem qualquer forma de discrimanção quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra.

Nesse sentido, o presente artigo buscou investigar, a partir da inserção em dois Centros de Atendimento Psicossocial (CAPS), o espaço que a população LGBTQI+ ocupa nos serviços públicos de saúde mental dos municípios vizinhos de Miracema e Santo Antônio de Pádua, localizados na região Noroeste Fluminense do Estado do Rio de Janeiro. É sabido que muitas pessoas LGBT evitam os serviços públicos para não passarem por constrangimentos diversos, em um contexto onde supostamente deveriam ser cuidadas. Para tanto, o objetivo geral foi analisar as narrativas das psicólogas e assistentes sociais dos referidos Centros, observando posicionamentos e produção de sentidos sobre a saúde mental desse público, em específico. A metodologia envolveu entrevista aberta, direcionada a partir de algumas questões pontuadas como por exemplo a demanda dessa população no CAPS; como acontece o atendimento psicológico; as barreiras de acesso aos serviços; se já recebeu algum tipo de capacitação para o atendimento das demandas dessa populção, entre outras. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre o tema, embasada na perspectiva sócio-construcionista. Esse trabalho analisa a temática, de forma introdutória, deixando em aberto novas possibilidades de investigação, sob a narrativa e perspectiva dos usuários. 

As equipes básicas que constituem os CAPS, nos dois municípios, são compostas por médicos, psicólogos, assistentes sociais e enfermeiros, que possuem, através dos seus Conselhos Profissionais, Códigos de Ética e Resoluções que expressam preceitos importantes como a não discriminação pela orientação sexual e identidade de gênero, bem como a despatologização dos mesmos. Para fins didáticos e como preservação da identidade dos serviços e profissionais envolvidos, por uma questão de ética em pesquisa em ciências sociais, os equipamentos foram nomeados como CAPS A e CAPS B. 

A ABORDAGEM SOBRE A EXPERIÊNCIA NO CAPS A

No CAPS descrito como “A”, a abordagem se deu de forma presencial, com recepção da psicóloga e assistente social. Houve um diálogo acolhedor e o objetivo do trabalho foi esclarecido, ficando a cargo da psicóloga responder por escrito algumas questões norteadoras. No quesito sobre a demanda da população no CAPS A, a psicóloga respondeu brevemente “um atendimento específico à população LGBT não há. Temos demandas de pessoas de todas as condições, independente de sua orientação sexual e de gênero”. Desse modo, não fica claro se, no momento, o CAPS A tem algum usuário desse grupo. Vale ressaltar que a questão não tratava de atendimento “específico”; apenas atendimento. Sobre  a forma como acontece o atendimento psicológico dessa população no CAPS A, também discorreu sinteticamente “da mesma forma que acontece com todos: o atendimento é feito independente da condição física, sexual, de gênero etc. São todos seres humanos”. Como a bibliografia aponta que a população LGBT enfrenta graves barreiras de acesso às políticas públicas, apesar de todo o aparato legal, foi questionado se essa também é uma realidade do CAPS A. “De forma alguma. O CAPS é um serviço aberto a todo e qualquer tipo de população. Por já haver uma grande carga de preconceito em relação à saúde mental, os pacientes, independentemente de sua opção em termos de sexualidade, são acolhidos com igualdade e sem nenhuma diferenciação.” Neste ponto, é possível citar DUARTE (2011, p.93): 

De igual sentido, observa-se a dissolução da concepção de patologia, desvio, distúrbio ou perversão para orientação sexual (...).

A orientação sexual (hétero, homo ou bi) não possui explicação científica e também não é uma escolha, por isso o termo “opção sexual” não é correto. A pessoa descobre-se ao longo de seu desenvolvimento e, a partir daí, tem noção de sua atração por um ou mais gêneros.

Sobre a capacitação para o atendimento das demandas relacionadas à população LGBT também discorreu de forma sucinta: “não fiz e não vejo necessidade, pois o trabalho é o mesmo para todos.” FERREIRA et al (2018) alerta, a partir de suas pesquisas, que “é de extrema necessidade que as equipes de saúde, em especial, da saúde mental, busquem por capcitações permanentes e discussões dentro dos espaços institucionais, uma vez que os trabalhadores não estão isentos de reproduzirem a lógica dominante da sociedade”. Por fim, sobre algum caso relevante a compartilhar: “vários pacientes vem em busca de atendimento por estar passando por processos depressivos, com suas angústias e tormentos”. A partir daí narra sobre um usuário acompanhado no ambulatório desde a infância, com histórico de conflitos familiares por não aceitação de sua “opção sexual” e que viu como única alternativa ingressar na prostituição como meio de sobrevivência. 

A ABORDAGEM SOBRE A EXPERIÊNCIA NO CAPS B

No CAPS descrito como “B” o primeiro contato também foi presencial com a assistente social. Como não era dia de plantão da psicóloga, a assistente se comprometeu em fazer um elo entre entrevistador/entrevistada e a partir daí os contatos aconteceram de forma remota, através do suporte WhatsApp. As mesmas perguntas norteadoras foram feitas e na questão da demanda, foi esclarecido que: “como o CAPS é um CAPS I, atendemos todo o tipo de demanda que chegam ao serviço. O atendimento é generalizado e toda população que procura é acolhida e direcionada; é vista a necessidade desse paciente, se vai ser atendimento médico, psicológico, o que vai ser o melhor.”  Sobre o atendimento psicológico ressalta novamente a questão da classificação do CAPS I, e de forma objetiva  diz que “faz o direcionamento, claro, avalia a questão de riscos, faz a escuta e qual é especificamente a demanda; é acolhido e direcionado em relação ao que necessita. O atendimento psicológico é feito da mesma forma como é conduzido os demais atendimentos.” Um ponto a destacar na fala é sobre a avaliação de riscos; embora ela não discorra mais especificamente sobre esses riscos, fica evidente a preocupação em garantir a integridade do usuário. Sobre as barreiras de acesso aos serviços, destaca: “a demanda é muito grande para o serviço de psicologia no CAPS, independentemente de ser para essa população. O número de profissionais é insuficiente  para dar conta de toda a demanda; mas é feita a avaliação de riscos, a avaliação dos casos e são direcionados de acordo com a urgência, a necessidade. Mas temos estratégias, alguns grupos para onde são direcionados; não há discriminação, na minha percepção; todos que chegarm foram acolhidos e atendidos dentro de suas necessidades. Mas eu entendo que possa haver ainda essa dificuldade nos serviços de saúde, principalmente para lidar com as questões “trans”, com a questão da transição do gênero, isso é muito complexo ainda em alguns serviços. Nós profissionais de saúde mental, eu entendo que precisamos nos capacitar mais para que a gente possa prestar o melhor atendimento, o melhor acolhimento a essa demanda.” Sobre a população transexual, dentro do universo LGBT, convém ressaltar que é tida como a população mais estigmatizada, vítima dos mais diversos tipos de preconceito e, consequentemente, das mais diversas formas de violência. Em 2019, a Revista Gênero e Número (2019), informou um aumento de 800% nas notificações de violência contra pessoas trans entre os anos de 2014 a 2017. Este número sugere que diariamente onze pessoas trans são agredidas no Brasil. 

Ao abordar a questão do acesso, a psicóloga do CAPS B já levantou a questão da necessidade de capacitação, e, em um áudio seguinte ela acaba constatando esse fato,  ressaltando, ainda, que nunca fez uma formação específica para o tema, mas que acha extremamente importante. E, quando solicitada a discorrer sobre um caso relevante, fez o seguinte relato: “já tivemos uma travesti que trabalhava conosco, ela trabalhava como oficineira e nunca sofreu nenhum tipo de preconceito, principalmente por parte dos pacientes mais graves e nem por parte da equipe; o serviço de saúde mental já contou com o trabalho de uma travesti e foi muito bacana, foi muito legal, uma construção muito positiva.”

CONCLUSÕES

Em estudo realizado, Alex Ceará e Paulo Dalgalarrondo (2010) sugerem a frequência de transtornos depressivos, ideação suicida, uso e abuso de álcool e outras drogas, ansiedade generalizada entre a população LGBT em função da LGBTfobia. A construção de redes de apoio como Centros de Cidadania, Centros de Assistência à Saúde Mental (CAPS) tornam-se imprescindíveis neste cenário. O meio familiar, o espaço escolar, o local de trabalho, a rua, o convívio social como um todo pode ser extremamente violento, não apenas para os transexuais, mas para as diversidades sexuais e de gênero. É necessário ressaltar que na atual conjuntura, a saúde mental, os direitos da classe trabalhadora e os direitos específicos da população LGBT encontram-se ameaçados pela onda conservadora e retrógrada do atual governo. Devemos, portanto, reafirmar a resistência com o compromisso ético-político de erradicação de todas as formas de preconceito e discriminação, sem dominação, exploração e opressão. A pesquisa notou a necessidade de retomada constante do tema, aprofundamento de alguns tópicos, escuta da outra “face” do CAPS, ou seja, a história narrada sob o ponto de vista do usuário, a fim de dar visibilidade a narrativas pouco conhecidas. A análise enfatiza a potência da discussão sobre o tema, com vistas a contribuir para a qualificação dos equipamentos de políticas públicas, em especial o CAPS, assegurando os direitos à população LGBTQI+, a partir de atenção e cuidado integral à saúde mental dessa população.


REFERÊNCIAS 

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Caderno de Atenção Básica, n. 26: Saúde sexual e saúde reprodutiva. Brasília: Ministério da Saúde, 2010.


______. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Combate à Discriminação. Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT. Brasília: Ministério da Saúde, 2009.


______. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Combate à Discriminação. Brasil sem homofobia: programa de combate à violência e à discriminação contra GLTB e promoção da cidadania homossexual. Brasília, 2004.


______. Lei Federal Nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Brasília, 2001.


CEARÁ, A. de T.; DALGALARRONDO, P. Transtornos mentais, qualidade de vida e identidade em homossexuais na maturidade e velhice. Revista de Psiquiatria Clínica. São 

Paulo, v. 37, n. 3, p.118-23, 2010.
  

Diversidade Sexual e de Gênero na Saúde Mental: Aproximações e experiências no campo da pesquisa. Larissa de Castro Marção FERREIRA et al. Disponível em Vol.2, n.01, Jan. – Mar., 2018 .  www.revistas.unilab.edu.br/index.php/rebeh

DUARTE, M. J. de O. Diversidade sexual e Política Nacional de Saúde Mental: contribuições pertinentes dos sujeitos insistentes. In: Em Pauta – Teoria Social e Realidade Contemporânea – Revista da Faculdade de Serviço Social da UERJ, Rio de Janeiro, n. 28, p. 83-102, dezembro de 2011.


REVISTA GÊNERO E NÚMERO. Transfobia: 11 pessoas trans são agredidas a cada dia 

no Brasil. 27 de junho de 2019. Disponível em: http://www.generonumero.media/transfobia-11-pessoas-trans-saoagredidas-a-cada-dia-nobrasil-2/










domingo, 19 de junho de 2022

Trabalho da Faculdade de Psicologia (Técnicas Grupais)

Por: Alessandra Barros Cretton
Leia, reflita e elabore uma RESENHA sobre o artigo: “PSICOLOGIA SOCIAL E PROCESSO GRUPAL: A COERÊNCIA ENTRE FAZER, PENSAR E SENTIR EM SÍLVIA LANE”

O objeto de estudo ora apresentado trata-se de um artigo de Sueli Terezinha Ferreira Martins, doutora em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, aceito em 2007, que discorre sobre as contribuições de Sílvia Lane para a formulação de concepção e propostas de análise do processo grupal. Em suas referências, elenca quatorze obras da pesquisadora, sistematizadas em artigos, coletâneas e livros, que delinearam uma teoria dialética do processo grupal, agregada no decorrer do tempo e de suas experiências de pesquisa - na disciplina “Processos Grupais” que ela ministrava na PUC; no diálogo com vários colegas da Psicologia Social brasileira e latino-americana, somado às contribuições de outros estudiosos como Martín-Baró, também citado nas referências. 
A autora destaca que o artigo Uma redefinição da Psicologia Social na revista Educação &Sociedade (1980) e o livro O que é Psicologia Social (1981) representam um marco na história da Psicologia Social brasileira e latino-americana, apresentando-nos Lane como pioneira da Psicologia Social crítica no Brasil. Os dois trabalhos mencionados já explicitam seu posicionamento ético-político, confirmado, mais adiante no livro Psicologia Social: O homem em movimento (1984), quando Lane reafirma que “caberia à Psicologia Social recuperar o indivíduo na intersecção de sua história com a história de sua sociedade – apenas este conhecimento nos permitiria compreender o homem enquanto produtor da história” (p.13). É nesta mesma obra que a autora extrai um capítulo intitulado "O processo grupal", enfatizando que o artigo discorre fundamentalmente sobre esse texto. Ao realizar uma revisão de diferentes teorias sobre grupo, Lane encontrou duas posições diferentes: a primeira defendia que a função do grupo seria apenas a de definir papéis e, por consequência, implicaria garantir a produtividade dos indivíduos e grupos através da manutenção e harmonia das relações sociais; a segunda enfatizava o caráter de mediação do grupo, prevalecendo a preocupação com o processo pelo qual o grupo se produz, considerando as determinações sociais presentes nas relações grupais. Ao falar sobre processo grupal (e não grupo ou dinâmica de grupo), Lane se posiciona, trazendo para o centro da discussão o caráter histórico e dialético do grupo, que se constrói num determinado espaço e tempo, fruto das relações que vão ocorrendo no cotidiano. É preciso afirmar que um grupo não se baseia apenas em reunir pessoas que compartilham normas e objetivos comuns; antes, é preciso compreender o sentido de relações e vínculo entre pessoas com necessidades individuais e/ou interesses coletivos. Nesta ótica, o grupo é uma estrutura social, uma realidade total, um conjunto que não pode ser reduzido à soma de seus membros. O processo grupal, assim como qualquer vivência humana, implica relações de poder e práticas compartilhadas e, ao se realizar, desenvolve sua identidade. Lane destacou duas dimensões, neste sentido: a externa, relacionada com a sociedade e/ou outros grupos; e a interna, vinculada aos membros do próprio grupo, em direção à realização dos objetivos que levem em consideração as aspirações individuais ou comuns. Além de destacar essas dimensões, com a concepção histórica e dialética de grupo, Lane traz algumas sugestões para análise do indivíduo inserido no processo grupal: a primeira é o fato de considerar que “o homem com quem estamos lidando é fundamentalmente o homem alienado” (p.84); a segunda é que devemos considerar que todo grupo ou agrupamento existe sempre dentro de instituições (família, fábrica, universidade, Estado) e ainda podemos destacar uma terceira, que ressalta que a história de vida de cada membro do grupo tem importância fundamental no desenrolar do processo grupal. Alguns questionamentos foram colocados por Lane aos psicólogos sociais, indicando o caminho da construção de uma teoria dialética de grupos – que talvez justifique “a coerência entre o fazer, pensar e sentir”, proposto por Sueli Martins, no título do artigo, objeto desta resenha. 
Convém salientar, ainda, que Lane pensou na linguagem como elo fundamental entre indivíduo e sociedade, já que “ao mesmo tempo em que ela (a linguagem) é um produto social, também é uma forte ‘determinante’ da ação” (1980a, p. 69). “ O homem fala, pensa, aprende e ensina, transforma a natureza; o homem é cultura, é história...” (1984b, p.12). 
Um olhar mais esmiuçado consegue identificar no artigo o “fazer” quando Lane propõe que as relações não devem ser de dominação de uns sobre os outros, mas que identifiquem necessidades comuns a serem satisfeitas, através de atividades planejadas em comum e que impliquem ações de vários indivíduos; o “pensar” quando ela traz para a discussão o papel determinante do processo grupal para a superação do individualismo arraigado, da superação necessária para a realização de um trabalho comunitário que busque o desenvolvimento da consciência social e da autonomia dos indivíduos; e, por fim, o “sentir” quando afirma que com o poder que temos, podemos humilhar ou valorizar o outro. Podemos impedir seu crescimento como ser humano, ou contribuir para que tal aconteça. Sabendo como exercer esse poder, saberemos respeitar o poder dos outros. No entanto, deixando de lado esse olhar cartesiano, podemos concluir que fazer/pensar/sentir se misturam em sua obra, desde a década de 1960, ganhando produção mais significativa nas décadas de 1980 e 1990; e que Sueli Martins, embora faça questão de frisar, em suas considerações finais, que não objetivou uma análise exaustiva dos textos em que o processo grupal aparece na obra de Sílvia Lane, também conseguiu ser coerente e delinear uma visão geral sobre a Psicologia Social e Processo Grupal na bibliografia da autora destacada.

quarta-feira, 15 de junho de 2022

Sobre as coisas inimagináveis

Quando eu era criança custava muito para dormir e muitas vezes me angustiava perceber que todos da casa já dormiam e eu continuava acordada. Um dia, conversando com um tio, a quem tinha muito apreço, mencionei esse fato e ele me orientou a criar uma história na minha cabeça e ficar imaginando... imaginando... até que em determinado momento eu iria dormir, sem perceber. No dia seguinte, ao me deitar, eu deveria puxar o fio da memória à última lembrança e continuar a história (creio que ele me sugeriu algo como a prática de Sherazade, embora não tenha mencionado isso). Coloquei sua sugestão em prática e deveras adentrei no universo da vida que a gente sonha antes de dormir. Tempos depois é que pude fazer algumas análises. O fato de morar em um sítio sem energia elétrica nos obrigava a dormir mais cedo (mesmo com algumas horas de leitura à luz de velas) e para uma criança cheia de energia e disposição física isso representava um desconforto "diagnosticado" por insônia. Se, àquela época, ao invés de só imaginar eu tivesse escrito minhas histórias, talvez já fosse até uma escritora (rsrsrsrs), afinal, o que não faltou foi imaginação... Mas, neste caso, entram outras análises: se eu tivesse levantado para escrever talvez meu sono fosse embora de vez... Como saber? Nesta altura da vida isso não faz mais sentido. O que ficou desse período foi a percepção que existe uma vida que a gente imagina (ou sonha) antes de dormir e que com o passar do tempo percebemos que raramente ela se realiza. A vida é muito mais o resultado das coisas inimagináveis. Não estou falando de metas, objetivos práticos, reformas. Busco registrar aqui os contextos maiores. Certa vez encontrei no Instagram um post que traduzia bem esse meu sentimento. Pensei: mais alguém no mundo "inventa moda" antes de dormir.


Todo esse "prólogo" foi para registrar outra vivência, agora de forma mais sucinta e que justifica o título de nossa postagem. Ontem meu professor Eno (de Enoghalliton de Abreu Arruda) despediu-se da turma. Foi a última aula antes da semana de provas. Fizemos uma roda para discutir Hannah Arendt e, como alma iluminada que é, ele fez suas considerações finais e anunciou seu desligamento da faculdade. Está concluindo o curso de Medicina e imagino que vai para a residência. Quando fui abraçá-lo, eu disse que quando precisasse de médico no futuro, eu iria procurá-lo (meu plano de saúde é o SUS, então melhor contar com os amigos granjeados ao longo do caminho). Foi então que ele me respondeu assim: "vou fazer psiquiatria. Seu nome já está registrado em meu caderno para trabalhar comigo. Você fará parte da minha equipe". Fiquei impactada, confesso. O impacto que sente o despretensioso. Porque essa resposta faz parte daquelas coisas inimagináveis que acontecem na vida. Então me lembrei que todas as vezes que agi sem grandes pretensões de projeção foi quando obtive os melhores resultados. Oxalá eu consiga concluir, com êxito, esse caminho iniciado sem presunção, mas com o mesmo amor e dedicação dos meus tempos de insônia infantil. Pode ser que nossos caminhos venham se cruzar novamente - ou não. O que vale ficar nas dobras do tempo é a sua resposta - que para mim, até então, fazia parte do universo das coisas inimagináveis. Sem nenhuma pretensão.

terça-feira, 7 de junho de 2022

"Assumindo a encrenca" (Azeredo, 2010)

 "Temos planos para a vida; mas nos esquecemos que a vida também tem planos para nós."

Da esquerda para a direita:
Silvana, Alessandra,
Waldyr (coordenador do Centro de Cidadania) e Angelita.



sábado, 4 de junho de 2022

De volta a Raposo

Como mencionado no post "20 rosas", naquele 29 de maio "caímos" dentro de uma festa em Raposo, o tradicional desfile de Carro de Boi. Em síntese: um "mar de gente", frustração na compra das lembranças e promessa de retorno. Como os assuntos inacabados nos deixam com uma sensação ruim (os ciclos precisam ser fechados), resolvemos que cumpriríamos a promessa de retorno neste sábado, 04 de junho. E assim o fizemos, com o mesmo percurso do domingo anterior: entrega do lixo reciclável na caixa coletora, posto de combustível e estrada. O curioso é que, mais uma vez, ao entrarmos à direita no trevo, o fluxo de trânsito nos chamou a atenção. E aí veio uma sucessão de falas, intercaladas ou não: "Outra festa?" "Não pode..." "Ó, assim que eu vir um guarda de trânsito vou perguntar... se tiver festa, voltamos do meio do caminho". "Gente, que ojeriza de festa é essa?" "Deus me livre daquele monte de gente, de novo!" "Com festa ou sem festa a gente vai lá buscar as benditas lembranças que não compramos na semana passada, nem que seja descer, cumprir esse objetivo e voltar na mesma pegada". "Hoje não estamos vendo aquelas pessoas com bota e chapéu, o perfil está diferente..." De fato, ao descermos na avenida principal foi possível constatar que havia "outra festa", porém com um público bem diferente. Era o tradicional Encontro de Carros Antigos (lembramos que em 2015 também estivemos lá...). Tudo em Raposo vira "tradição" (rsrsrs). Obviamente que esse tema deveras interessou Janaina e, depois que conseguimos estacionar, nos misturamos à multidão. Uma rápida passagem nas barracas da feira, um pit stop na praça para o pastel com caldo de cana e, enfim, a loja de lembranças. Os olhos percorreram a vitrine em busca da maçã (não foi vendida, oh, que alegria!). (São muitos os parênteses - kkkk - porque a Janaina havia achado a maçã cara; eu cheguei até declamar a legenda de @nem_bom_vento: "quero beleza em casa e a beleza costuma ser pouco prática e bastante cara, mas, olhem, cá estou trabalhando que nem uma burra para isso". Mas, no meio da semana, viu o preço do caju em madeira do @designerartesão e mudou de ideia. O que o tempo não promove!!?...). Nesse meio-tempo, eu já estava de posse da bandeja escolhida por ela na semana anterior e ela com a maçã nas mãos. Efetuados os pagamentos, deixamos a sacola na loja e partimos apreciar os carros, a feira de pulgas (tradicional também, kkkk), fazer os registros e ser feliz! Promessas cumpridas, retornamos para o almoço no Cascudão (uma espera tão longa que nos fez fixar um acordo: só retornar em 31 de dezembro, rsrsrsrs). 
... E a vida continua, com maçãs, bandejas, vivências e memórias!









quinta-feira, 2 de junho de 2022

Bem-vindo, junho!

 ...com todos esses sentimentos aí da xiloteca afetiva da Janaina.