Meu nome é
Alessandra Barros Cretton. Trago neste nome a marca do magistério: ABC.
Trabalho há quase 26 anos na Secretaria Municipal de Educação de Santo Antônio
de Pádua. Ao longo de todo esse tempo, inúmeras foram as vivências que formaram
o chão onde caminho. Reuniões de Planejamento, Conselhos de Classe, Visitação
Escolar, Formação Continuada em Serviço, Oficinas, Reformulação Curricular,
enfim, toda a temática educacional foi experienciada e construída. Faço parte
da equipe técnico-pedagógica da Secretaria.
Desde 1989 já
era de praxe, por iniciativa da própria equipe, a formação do professor. Em
1999 surgiu o “PCN em Ação”, uma proposta de capacitação ofertada pelo
Ministério da Educação. Feita a adesão, partimos para uma semana de formação em
Itaperuna com a equipe do MEC. O material constituía-se de uma apostila para a
Alfabetização e outra para o Ensino Fundamental. O objetivo era trazer os PCN`s
ao conhecimento do professor, com encontros periódicos, extensa carga horária
de trabalho, módulos explicativos bem detalhados, integrando os programas da TV
Escola, diversos artigos da área e o estudo do próprio PCN. “Tudo muito
mastigado”. Não havia bolsa para nós, formadores, nem para os professores. O
programa teve boa acolhida e, ao longo de 1999 e 2000 foi trabalhado com toda a
rede municipal.
Em 2001 surge
o “PROFA”, um outro programa de formação do professor, agora destinado
exclusivamente ao Alfabetizador. O material era riquíssimo e, como no anterior,
não havia bolsa nem para o formador nem para o professor-cursista. Já havia uma
promessa, que não chegou a se concretizar. Mais uma vez o programa foi cumprido
com êxito pela rede municipal. À época, realizávamos os encontros nos dois
turnos para que o professor pudesse alternar com o seu horário de trabalho. Com
o tempo, percebemos que a rede cresceu e a maioria dos professores trabalhava
com duas matrículas. Os encontros passaram a ser noturnos. Mesmo sem nenhuma
remuneração extra, sempre tivemos uma efetiva participação docente.
Em 2007,
fizemos adesão a mais um programa de formação do MEC: o “Pró-Letramento”, nas
áreas de Língua Portuguesa e Matemática. A formação era destinada aos
professores do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental e contava com dois tutores,
um para cada área. Neste período, já tínhamos consolidado a ideia de formação
continuada em nossa rede e, mesmo sem bolsa, mesmo com os encontros noturnos,
toda a rede estava em formação. Em 2008 chegamos a trabalhar com 4 turmas, em
dois dias, para atender à demanda. Os professores continuavam sem receber a
bolsa, mas os tutores foram contemplados com 100 reais mensais.
Uma
característica marcante dos professores da nossa rede municipal é a busca pelo
conhecimento, a necessidade de renovar sua prática pedagógica. Os desafios são
aceitos. Em levantamento realizado no dia 04 de fevereiro próximo passado, a
partir de dados fornecidos pela Secretaria de Administração, constatou-se que
somos 536 professores efetivos, sendo 50% da rede já enquadrada com
Pós-Graduação e 26% enquadrados com Graduação. Nas faixas anteriores sabemos da
existência de muitos professores que já são Pós-Graduados, alguns com Mestrado,
que aguardam apenas a conclusão do período de estágio probatório. A ação
contínua da Secretaria de Educação no espaço escolar permite que a ideia de
rede seja eficaz, daí o lema para 2015: Todos no mesmo caminho.
Até então, os
professores do segundo segmento do Ensino Fundamental não tinham recebido
nenhuma formação específica do MEC. As ações eram desenvolvidas pela própria
equipe da Secretaria, como por exemplo, o Ciclo de Estudos para o Professor de
Matemática, que teve duração de 2005 a 2012. Em 2009, veio o “GESTAR”,
destinado aos professores de Matemática e Língua Portuguesa. A dinâmica foi a
mesma das formações anteriores e também não havia bolsa para o cursista. Ao
tutor, foram destinadas 10 parcelas de 400 reais, que não tinham data-base para
pagamento. Chegamos a trabalhar 8 meses sem receber o auxílio.
Em 2012 o
município assinou o Pacto “Todos pela Educação”. Dentre as ações desse Pacto,
está o PNAIC – Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa –, que teve
início efetivo em 2013. Agora, seria a vez dos professores que atuam no 1º, 2º
e 3º anos do Ensino Fundamental, o chamado Ciclo de Alfabetização. Renovamos
nossas esperanças e como nos idos de 1999, partimos para uma semana de formação
em Itaperuna. Confesso que depois dessa trajetória no currículo, ficamos um
pouco mais exigentes em nossas expectativas. E, a formação não nos decepcionou
em seu conteúdo, mas na logística do material. Os Cadernos de Estudos não
estavam disponíveis e demoraram a chegar em nosso município. Os primeiros
encontros foram realizados com fragmentos desse material, visto a
impossibilidade de reprodução xerográfica para todos os professores inscritos.
Claro que esse impedimento não interfere na qualidade da discussão, quando bem
conduzida pelo Orientador de Estudos, mas limita as ações. Com o intuito de
trabalhar todos os textos, por exemplo, fizemos algumas cópias de cada um e
dividimos o trabalho em equipe, de modo que todos ouviriam a síntese de cada
texto, mas a leitura completa só seria possível quando estivesse disponível no
site do programa ou com o recebimento dos Cadernos individuais. Percebo que
nosso professor ainda não adquiriu o hábito de buscar a informação on-line;
alguns têm dificuldade de lidar com o próprio sistema (o sispacto) pedindo a um
colega que realize as atividades, as avaliações. Não há resistência, mas
despreparo.
Em comparação aos
programas anteriores, podemos destacar como aspecto positivo, o recebimento da
bolsa pelos professores – 10 parcelas de 200 reais, que no primeiro ano não
tinha uma data-base definida, mas começou a ser aprimorado em 2014. Comparando
o sispacto de 2013 e 2014, tivemos grandes avanços, principalmente na questão
das atividades obrigatórias que o professor deveria realizar mensalmente no
próprio sistema. A realização dessas atividades está diretamente vinculada ao
recebimento da bolsa, o que não acontecia no ano anterior. Com experiência de
longos anos em formação continuada na rede, senti que, pela primeira vez, o
alfabetizador sentiu-se valorizado, no sentido de ter visibilidade (pessoal e
profissional). Outro fator que pode ser destacado é que o docente que atua no
2º e 3º ano também começou a perceber-se alfabetizador. Até então o professor
alfabetizador era aquele que atuava no 1º ano. “O aluno chega no 2º e 3º ano
sem saber ler ou escrever porque o alfabetizador não deu conta dele no 1º ano”.
Essa ideia começou a ser desconstruída e com a perspectiva de letramento dentro
de um Ciclo, os professores dos três anos entenderam que são responsáveis pela alfabetização dessa criança, que deve estar
consolidada ao final do 3º ano.
Além da bolsa,
o recebimento de materiais específicos para as turmas, como a caixa de livros,
dicionários e jogos, veio contribuir ainda mais para essa formação da
identidade do professor alfabetizador. O material chegou para ficar na sala de
aula. Os cantinhos foram criados e o material poderia ficar ali; os livros não
teriam que ser compartilhados ou ficar na sala de leitura. Num primeiro momento
tivemos dificuldades com alguns diretores no sentido de entender que aquele
material deveria ser manuseado diariamente pelas crianças e que não poderia ser
deslocado para as salas de leitura.
Com essas observações, pode-se indagar: “mas
até então ninguém sabia que deveria ser assim? Isso não foi tratado nas
formações anteriores? Estão inventando a roda?” Claro que não. Todos os nossos
professores que passaram pelas formações anteriores já sabiam e a maioria já
colocava em prática as ações sugeridas no PNAIC. O diferencial está nesse
suporte material e financeiro diretamente
relacionado ao professor. Ele gerencia o material, alimenta as informações
no sispacto, tem visibilidade como alfabetizador no país. A auto-estima foi
valorizada.
Os “Quadros de
Direitos de Aprendizagem” também devem ser enfatizados como um aspecto relevante
da formação, pois esclarecem o que deve ser introduzido, aprofundado e
consolidado em cada ano do Ciclo. Com esses quadros na mão, nossa rede assumiu
o desafio de realizar a reformulação curricular e uma equipe de
professores-líderes foi formada para tal fim. Em quatro meses, com uma carga
horária de 8 horas semanais, 10 professores regentes encontravam-se para
discutir os direitos de aprendizagem, relacioná-los aos conteúdos e listar o
que deveria ser priorizado bimestralmente. Dessa equipe, 06 professores estão
vinculados ao PNAIC. A experiência foi bem sucedida e na Jornada Pedagógica de
fevereiro de 2015, cada professor recebeu seu exemplar impresso. Mais uma vez,
foi valorizado na sua individualidade.
A partir dessa
experiência foi criado o PROAMA, que consiste numa equipe de 04 professores,
oriundos desse trabalho de reformulação curricular, - e que devem
obrigatoriamente estar em exercício de docência com uma matrícula. Eles serão
os Professores Articuladores e Monitores da Aprendizagem, com função de visitar
e acompanhar o trabalho docente, fazendo o monitoramento da proposta
curricular, com o olhar voltado para a aprendizagem,
nosso foco principal.
Inúmeras são
as contribuições que podemos destacar no PNAIC; as sequências didáticas
apresentadas no primeiro ano de formação e aprofundadas no ano de 2014 foram
bem acolhidas pelos nossos professores e temos um projeto de criarmos em 2015
um banco de sequências produzidas pelos professores da rede, a partir da
prática pedagógica e a implementação das ações propostas no currículo.
Um desafio a
ser enfrentado é a questão da avaliação, que não deve ser mensurada neste Ciclo
de aprendizagem, mas ainda traz arraigada a ideia de uma nota bimestral. Alguns
professores e diretores defendem seu discurso, justificando que as famílias
cobram as notas e não confiam que apenas relatórios sejam suficientes para
avaliar o desempenho da criança. Esse tem sido um ponto nevrálgico que teremos
que debater com os Orientadores Pedagógicos em nossas reuniões mensais. O
documento curricular traz as orientações e a ficha de acompanhamento do
desempenho do aluno. Alegações como: “se o aluno não fizer uma provinha, depois
não vai saber fazer a Prova Brasil” “se não fizer um simulado depois quando
chegar ao 6º ano vai ficar perdido” ainda estão presentes em nossos encontros
de formação. Enfatizamos que criar e aplicar um instrumento avaliativo pode ser
uma estratégia de ensino, mas não pode ser o fim em si mesmo. Neste ponto, a
discussão continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário