Já é fato conhecido que sou filha de uma exímia costureira. Mamãe tem muitas qualidades, mas uma característica lhe é bem particular: a arte do aproveitamento. Ainda não encontrei outra pessoa assim. Ela gosta de transformar e aproveitar as coisas. E refiro-me aqui não apenas às roupas, mas qualquer coisa que aos seus olhos possa ser útil. Nada pode ser desperdiçado. Comida, então, nem pensar! Quando pequenina, qualquer sobra de comida era repassada aos animais. Ela tinha por hábito amassar o feijão e depois coá-lo (não tínhamos liquidificador) e as cascas que ficavam no escorredor eram levadas por mim - imaginem! - ao peixes do valão. Por orientação dela, claro.
Talvez porque tenha sido criada em tempos difíceis, sabe se contentar com pouco e valoriza tudo o que tem, principalmente o que ganha. Na juventude, eu não entendia muito bem esse comportamento e às vezes até me irritava. A maturidade nos dá novos olhares... Tenho inúmeras situações que poderia descrever; cheguei a fazer uma espécie de álbum "antes" e "depois" com os vestidos da Marina. Sua última obra foi transformar uma saia (que foi minha) para Marina usar em uma festa na UFV. Seu contentamento materializou-se num bilhetinho, enviado junto com a peça por Sedex, para chegar em tempo e agradar à neta.
Talvez porque tenha sido criada em tempos difíceis, sabe se contentar com pouco e valoriza tudo o que tem, principalmente o que ganha. Na juventude, eu não entendia muito bem esse comportamento e às vezes até me irritava. A maturidade nos dá novos olhares... Tenho inúmeras situações que poderia descrever; cheguei a fazer uma espécie de álbum "antes" e "depois" com os vestidos da Marina. Sua última obra foi transformar uma saia (que foi minha) para Marina usar em uma festa na UFV. Seu contentamento materializou-se num bilhetinho, enviado junto com a peça por Sedex, para chegar em tempo e agradar à neta.
Mas esse post não se refere à saia e sim a um vestido feito para mim em 2002. Cópia fiel ao da revista. Para tal feito contou com a colaboração de outra exímia na arte de bordar: D. Janete Silva Oliveira, mãe da sempre colega de trabalho e amiga Ádma. Aliás, foi com a colaboração de Ádma (que ampliou o risco do desenho) que foi possível sair tudo igualzinho ao modelo. A cor, o tecido, o bordado, tudo idêntico. Pena eu não ter guardado a folha da revista...
Há 14 anos eu estava mais "magrinha" e o vestido foi usado em diversas ocasiões. Não tenho problemas em repetir roupa (aprendi isso com minha mãe também). Conforme os filhos foram crescendo fui "crescendo" com eles e o vestido ficou no guarda-roupa. Lindo! Até que esse ano comentei com ela que queria aproveitá-lo. Ela se prontificou a transformá-lo numa blusa e, acreditem, não consigo achar as palavras corretas em nossa Língua para traduzir o prazer que encontra nessa ação. Levei o vestido e ela pegou o meu molde para ver o que seria possível fazer. Aí, tem uma historinha ótima desse momento. Preciso abrir um parênteses.
(Há alguns meses apareceu um cachorrinho lá em casa, em um domingo de manhã. Magrinho, parecia uma mistura de vira-lata com basset. Foi se achegando como quem não quer nada, mas logo deu um jeito de conquistar seu espaço e mostrar sua personalidade. Muito inteligente o bichinho! Como percebeu que minha mãe é coração-mole tratou de conquistar meu pai, acompanhando-o em todas as tarefas no sítio. Pronto, espaço garantido! O velho rendeu-se e baixou a guarda. E começamos a chamá-lo de Pit.
No dia em que levei o vestido para a possível reforma, eu passava minhas roupas em uma grande mesa que fica na varanda e mamãe manuseava o tal molde sobre o vestido. Enquanto isso, dizia: "levei duas horas para fazer esse molde para você, mas ficou ótimo. Aí eu comentei com a Gorethi e ela respondeu: 'cruzes mamãe, duas horas para fazer um molde? A senhora levava esse tempo para fazer uma calça...' " No exato momento que ela dizia essa frase eu olhei para o chão e vi o Pit estraçalhando um pedaço de papel, num ritmo frenético com as patas. Imediatamente falei: "mãe, por um acaso esse papel que o Pit está destruindo é um pedaço do molde que a senhora levou duas horas para fazer?" Ela olhou para o chão e respondeu: "meu Deus Pit, não é à toa que te colocaram na beira da estrada, você é terrível." E abaixou-se para pegar o que havia sobrado... Rimos muito da situação).
Voltando ao vestido, sim ele foi transformado em uma blusa e ficará comigo, espero que por muitos anos... Precisamos valorizar as coisas, eis a lição que ela me passa; respeitar o trabalho alheio (quantas horas D. Janete não terá gastado para bordar o tecido?), estabelecer uma relação mais ecológica com a vida, a natureza, com menos consumismo... Ainda não aprendi de todo a lição, mas estou no caminho. Minha mãe, por sua vez, com pouco estudo, já aprendeu essa arte. Talvez por essa razão eu tenha escolhido ser sua filha.
Há 14 anos eu estava mais "magrinha" e o vestido foi usado em diversas ocasiões. Não tenho problemas em repetir roupa (aprendi isso com minha mãe também). Conforme os filhos foram crescendo fui "crescendo" com eles e o vestido ficou no guarda-roupa. Lindo! Até que esse ano comentei com ela que queria aproveitá-lo. Ela se prontificou a transformá-lo numa blusa e, acreditem, não consigo achar as palavras corretas em nossa Língua para traduzir o prazer que encontra nessa ação. Levei o vestido e ela pegou o meu molde para ver o que seria possível fazer. Aí, tem uma historinha ótima desse momento. Preciso abrir um parênteses.
(Há alguns meses apareceu um cachorrinho lá em casa, em um domingo de manhã. Magrinho, parecia uma mistura de vira-lata com basset. Foi se achegando como quem não quer nada, mas logo deu um jeito de conquistar seu espaço e mostrar sua personalidade. Muito inteligente o bichinho! Como percebeu que minha mãe é coração-mole tratou de conquistar meu pai, acompanhando-o em todas as tarefas no sítio. Pronto, espaço garantido! O velho rendeu-se e baixou a guarda. E começamos a chamá-lo de Pit.
No dia em que levei o vestido para a possível reforma, eu passava minhas roupas em uma grande mesa que fica na varanda e mamãe manuseava o tal molde sobre o vestido. Enquanto isso, dizia: "levei duas horas para fazer esse molde para você, mas ficou ótimo. Aí eu comentei com a Gorethi e ela respondeu: 'cruzes mamãe, duas horas para fazer um molde? A senhora levava esse tempo para fazer uma calça...' " No exato momento que ela dizia essa frase eu olhei para o chão e vi o Pit estraçalhando um pedaço de papel, num ritmo frenético com as patas. Imediatamente falei: "mãe, por um acaso esse papel que o Pit está destruindo é um pedaço do molde que a senhora levou duas horas para fazer?" Ela olhou para o chão e respondeu: "meu Deus Pit, não é à toa que te colocaram na beira da estrada, você é terrível." E abaixou-se para pegar o que havia sobrado... Rimos muito da situação).
Voltando ao vestido, sim ele foi transformado em uma blusa e ficará comigo, espero que por muitos anos... Precisamos valorizar as coisas, eis a lição que ela me passa; respeitar o trabalho alheio (quantas horas D. Janete não terá gastado para bordar o tecido?), estabelecer uma relação mais ecológica com a vida, a natureza, com menos consumismo... Ainda não aprendi de todo a lição, mas estou no caminho. Minha mãe, por sua vez, com pouco estudo, já aprendeu essa arte. Talvez por essa razão eu tenha escolhido ser sua filha.
Dia das mães em 2002 : Marina com 5 anos, Daniel com 3 e Renan com 1 ano e 10 meses. |
Na apresentação de monografias durante o Curso Progestão da UFJF. |
Fui tutora do curso e estava na banca examinadora - 2006. |
Em 2016, o vestido virou uma blusa. |
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