segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

"Por dezembros atravesso..."


Por vezes gostaria de guardar o tempo...
Pará-lo por alguns instantes ou pelo menos proteger de todo o mal os bons e sagrados momentos vividos.
Não, não é possível.
O tempo é um senhor de muitos atributos: à vezes é implacável... é exímio cobrador e retribuidor ... está sempre em movimento.. é misterioso (ainda que um físico, um dia, tenha se atrevido a defini-lo em dobras).
Um sábio muito bem compreendeu quando afirmou que ele "só respeita as edificações que ajudou a construir". Já o poeta disse que "ele não sabe ter firmeza em nada" talvez tentando consolar-se ou justificar essa constante mudança.
Com efeito, cantado em prosa e verso, o tempo (quase) é o dono de tudo. No entanto, ele (também) está sob os domínios de um Criador, que para situá-lo, criou uma companheira especial chamada Memória.
Ela sim guarda o tempo. Filtra o essencial e coloca nos escaninhos do inconsciente as vivências que vão moldando nossa personalidade. Às vezes um cheiro ou uma música penetra o sótão da alma (em homenagem ao blog da minha filha) e resgata lembranças. Algumas tão fortes que quase posso tocá-las, confirmando a teoria do físico de que é possível viajar "nas fatias de pão de forma". Está tudo lá... guardadinho.
Dezembro tem um significado especial para mim. Quero morrer em dezembro...
O clima - este ano em especial, chuvoso - remete à infância. Natal na casa de vó... Lama, faxina, correria, ansiedade para aguardar tios e primos... todo mundo dormindo amontoado no tapete da sala, quando a madrugada e o cansaço venciam as brincadeiras na varanda.
Dezembro me leva à preparação para o Ano Novo na casa da madrinha Geni: mais faxina, mais movimento, comidaria, mesa farta, despensa abarrotada, colchas limpas e perfumadas nas camas... E gente comendo de prato na mão, tomando coca-coca em garrafinha de vidro, por todos os cantos da casa e do grande terreirão de pedra, que servia para secar as colheitas de arroz e feijão.
Dezembro me remete à própria vida que construí para mim. Minha filha nasceu em dezembro, lá no dia 28, para coroar as bênçãos de 1996. Para renovar minha fé em Deus e na humanidade: "o amor estava ali, mas eu nunca saberia... até que um dia se revelou quando te vi..." E, por conta dessa vida, vieram os nossos Natais: presépio, árvore, luzes, cada ano um enfeite novo e no último Natal, a guirlanda. Também as listas dos motivos para agradecer e ser feliz do ano todo... o culto especial de Natal, a ceia, o amigo oculto, os abraços, piadas, histórias, curiosidades, memes e, claro, a tradicional foto dos três rebentos com os peludos da casa - que, a cada ano aumenta em quantidade e dificuldade para conseguir a "foto ideal".
Ah... mas nesse dezembro estou sentindo, pela primeira vez, o ninho vazio. Tudo porque dois dos filhotes já ganharam asas e - como tem que ser - estão empenhados a cuidar de suas vidas, estudos, estágios, projetos pessoais. Aí, aquela tradição de montar a árvore dia 1º de dezembro está sendo arrastada no correr dos dias, esperando minha avezinha pousar no solar.
No feriadão de outubro fomos juntas comprar flores na Foto Miracema. Achei precoce demais montar a árvore em outubro. Estava, ainda, iludida que seria possível manter a tradição...
Desse modo, restou-me colocar a guirlanda... e esperar. Colocar as luzes... e esperar. Montar o presépio... e esperar. E decidir, por fim, que tradição também pode ser quebrada. A partir de 2019 a árvore será montada até em outubro, se for preciso. Porque o que importa mesmo, é estar feliz!








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