No meu post "Por dezembros atravesso" faço uma menção ao tempo e à memória. Já é sabido que esse blog é um memorial e a temática do tempo é recorrente. Logo, tudo que diz respeito, positivamente, a esses temas ganham espaço aqui. Neste ano, especialmente, estamos envolvidos com a comemoração dos nossos 30 anos de magistério público municipal, temos um grupo no WhatsApp e foi por conta de um sentimento e uma frase, que conheci Fabíola Simões e esse texto tão maravilhoso! Às vezes ouvimos algo que nos entristece, não compreendemos reações e pensamos em desistir. Mas sonhadores nunca desistem! Então, pouco mais de meio dia escrevi no grupo: "o maior tesouro de um homem são as suas memórias". Algum tempo depois uma colega de jornada nos apresenta essa belíssima reflexão. Algo que "gostaríamos de ter escrito" no dizer de uma prima, por traduzir tão bem o que sentimos. "Chega doer o coração" responde outra, tentando definir com simplicidade e clareza a mistura de sentimentos. Ei-lo, transcrito abaixo, com a devida fonte. Para nosso deleite.
“O que a memória ama, fica eterno”
Por Fabíola Simões (A soma de todos os afetos –
blog: 04/07/2012)
Quando
eu era pequena, não entendia o choro solto de minha mãe ao assistir a um filme,
ouvir uma música ou ler um livro.
O que
eu não sabia é que minha mãe não chorava pelas coisas visíveis. Ela chorava
pela eternidade que vivia dentro dela e que eu, na minha meninice, era incapaz
de compreender.
O
tempo passou e hoje me emociono diante das mesmas coisas, tocada por pequenos
milagres do cotidiano.
É
que a memória é contrária ao tempo. Nós temos pressa, mas é preciso
aprender que a memória obedece ao próprio compasso e traz de volta o que
realmente importou, eternizando momentos.
Crianças
têm o tempo a seu favor e a memória muito recente. Para elas, um filme é só uma
animação; uma música, só uma melodia. Ignoram o quanto a infância é impregnada
de eternidade.
Diante
do tempo envelhecemos, nossos filhos crescem, muita gente se despede. Porém,
para a memória ainda somos jovens, atletas, amantes insaciáveis. Nossos filhos
são nossas crianças, os amigos estão perto, nossos pais ainda são nossos
heróis.
A
frase do título é de Adélia Prado: “O que a memória ama, fica eterno”. E o que
eu acredito é que quanto mais vivemos, mais eternidades criamos dentro da
gente.
Quando
nos damos conta, nossos baús secretos - porque a memória é dada a segredos - estão recheados daquilo que amamos, do que
deixou saudade, do que doeu além da conta, do que permaneceu além do tempo.
Um
dia você liga o rádio do carro e toca uma música qualquer, ninguém nota, mas
aquela música já fez parte de você - foi a trilha sonora de um amor, embalou os
sonhos de uma época ou selou uma amizade verdadeira - e mesmo que os anos
tenham se passado, alguma parte de você se perde no tempo e lembra alguém, um
momento ou uma história.
Ao
reencontrar amigos da juventude nos esquecemos que somos adultos e voltamos a
nos comportar como meninos cheios de inocência, amor e coragem.
Do
mesmo modo, perto de nossos pais seremos sempre “as crianças”, não importa se
já temos 30, 40 ou 50 anos. Para eles a lembrança da casa cheia, das brigas
entre irmãos, das histórias contadas ao cair da noite… serão sempre recentes,
pois têm vocação de eternidade.
Por
isso é tão difícil despedir-se de um amor ou alguém especial que por algum
motivo deixou de fazer parte de nossas vidas.
Dizem
que o tempo cura tudo, mas talvez ele só tire a dor do centro das atenções. Ele
acalma os sentidos, apara as arestas, coloca um band-aid na ferida. Mas aquilo que amamos tem disposição para
emergir das profundezas, romper os cadeados e assombrar de vez em quando.
Somos
a soma de nossos afetos, e aquilo que nos tocou pode ser facilmente reativado
por novos gatilhos - uma canção cala nossos sentidos; um cheiro nos paralisa
lembrando alguém; um sabor nos remete à infância.
Assim
também permanecemos memórias vivas na vida de nossos filhos, cônjuges, ex
amores, amigos, irmãos. E mesmo que o tempo nos leve daqui, seremos eternamente
lembrados por aqueles que um dia nos amaram.
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