quinta-feira, 23 de abril de 2020

Às vezes nosso milagre está em preparação.

Emmanuel nos diz que se a bondade divina ainda não alcançou nosso pedido, está a caminho. E, mediante uma história ocorrida comigo e minha família, entendi perfeitamente que, às vezes, se o nosso "milagre" ainda não ocorreu, está sendo preparado.
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O dia 17 de março de 2017 foi uma sexta-feira. Acordei com minha irmã me telefonando para avisar que nossa avó tinha falecido, pouco antes das 6 horas da manhã. Já prevíamos tal situação porque ela estava internada na UTI há 17 dias... Levantei-me e fui cumprir, mais uma vez, a missão de avisar à mamãe e buscá-la para o velório. Antes das 8 horas eu já estava no sítio e, quando ela me viu - pela hora, pela roupa que eu vestia - ela me disse: "veio me buscar mais uma vez, não é minha filha?", referindo-se ao fato de ter sido eu a mensageira do falecimento de seu irmão, meu tio Paulo, dois anos antes, no amanhecer de uma 2ª feira, dia seguinte ao Dia das Mães de 2015.
Ela chorou... Disse que durante a madrugada havia acordado e chorado muito... E que já sabia que a qualquer momento, eu chegaria para buscá-la.
Sua roupa já estava separada... Vestiu o luto e seguimos para a capela mortuária. Fomos as primeiras a chegar, no exato instante em que o serviço funerário estacionava o carro defronte aos portões. Subimos juntos. Ela pode ver sua mãezinha sozinha. A filha mais velha pode chorar e se despedir da tão amada mãe (porque até hoje não conheci nenhuma outra pessoa nesse mundo que amasse tanto uma mãe, quanto Maria Martha - minha mãe, amou sua mãe - minha avó Maria José).
Ali ficamos o dia todo. O enterro estava marcado para 17 horas. No entanto, com a chegada dos filhos e outros parentes, com os rituais promovidos pelas filhas, netas e bisnetas, o corpo só foi conduzido ao sepulcro às 18 horas. O sino da igreja badalava no centro da cidade, mas pelo estranho silêncio daquele momento, conseguíamos ouvi-lo nessa despedida, e um cheiro de chá de capim cidreira vinha pelo ar... provavelmente de alguma casa da vizinhança. Fato que foi percebido e comentado por mim e minha tia Mariza. Uma vida que se cumpriu entregava o corpo de volta à terra e a alma retornava,  após 92 anos, aos espaços siderais.
Depois que tudo terminou, já era noite. Eu e Janaina fomos levar mamãe de volta ao sítio. No caminho, mamãe manifestou certa preocupação com seu irmão, meu tio Sebastião, que estava às voltas com exames e possível diagnóstico de câncer. Achou-o magro, pálido. Quando parei o carro, antes que descesse, pediu-me, com seu jeito materno de pedir - quase pedindo desculpas também - que eu pagasse o SAF para o meu tio (SAF é um plano de assistência funerária). Seu coração amoroso estava preocupado se o irmão teria assistência na hora da despedida. Mamãe também tem um amor imensurável por esse irmão. 
No dia seguinte, sábado, tratei de atender-lhe ao pedido e no dia 19, domingo, já cheguei no sítio com o cartão dele na mão, avisando-a que ficasse tranquila... e que, pela carência do plano, ele teria que ficar quietinho por aqui até agosto... "Você é terrível, minha filha", ela sempre fala quando acha que eu a escandalizo com minhas colocações. Isso ficou entre mim e ela, por um bom tempo. Lembro-me de ter sugerido que não comentasse nada com ninguém porque poderia haver interpretações desencontradas. E, todo o cuidado, todo o amor e zelo de minha mãe, para com seu irmão, poderia passar (às mentes descuidadas) como um agouro; enfim, interpretações equivocadas de corações invigilantes. 
Depois de algum tempo comunicamos à minha irmã e quando a doença demonstrava que venceria a batalha, participamos também com a tia Vera, sua irmã que mora na cidade mais próxima. Os meses seguiram, até que em janeiro de 2018 o quadro piorou e ele foi para a internação. No amanhecer do dia 14 de janeiro, fez sua passagem. 
Agora, o "milagre".
Sua companheira confidenciou à minha mãe, durante o velório, que antes de entrar para a UTI ele havia lhe pedido que gostaria de ser sepultado junto de seu pai e irmão e que, naquele momento, ela ficara apreensiva quanto a prometer que assim seria, porque o translado de um funeral da cidade do Rio de Janeiro para Santo Antônio de Pádua não sairia por menos de 7 mil reais. Sem saber como agir, ela recolheu-se em suas orações e pediu a Deus uma direção naquele momento difícil. 
Tão logo chegou a notícia do desenlace, minha irmã acionou nossa prima e seu marido para que fizessem os contatos com o SAF e providenciassem o translado do corpo. O cartão já estava de posse de nossa tia Vera, justamente por ser a irmã que morava na cidade e, de fato, foi a primeira a ser notificada. Só ali, naquele momento, os demais parentes ficaram sabendo que havia uma preparação, e ele viria para junto dos seus...
Ao me abraçar, sua esposa disse: "atordoada com a notícia, não sabia por onde começar a agir. Liguei para sua tia para avisar... Instantes depois, recebi a ligação do Luís perguntando o endereço para onde deveria direcionar o carro funerário para buscar o corpo. Senti-me estremecer... As pernas fraquejaram e mesmo sem entender direito, sei que Deus tinha ouvido e atendido minhas preces."
Ela não havia prometido a meu tio que ele seria sepultado em solo natal, mas, de algum modo, para ela, Deus havia operado o milagre. 
O amor de minha mãe e minha obediência à ela foram os ingredientes necessários para que o milagre acontecesse para a companheira de meu tio. "Deus visita a criatura pela própria criatura". Não escrevo isso para destacar feitos, mas, como forma de reflexão e também de dizer, hoje, para minha filha, que a bondade de Deus nunca falha e, se ainda não chegou, está a caminho. 

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