Para minha mãe

Gosto de registrar as transformações que minha mãe faz nas roupas que compro ou idealizo. As minhas "inventações" de moda, como ela gosta de dizer. Tenho alma florida, então tudo o que é colorido, estampado, atrai meu olhar. Nesses "passeios virtuais" dei com um vestido que fez os olhinhos brilharem. Um patchwork puro luxo. Era da Curadoria Digital, mas logo depois descobri que vinha da China. Comprei. Não foi barato, para os meus padrões. 

Quem já comprou da China sempre diz que temos que comprar um número a mais, porque o padrão é para mulheres magras. Fui lá e marquei logo um XXXXGG (rsrsrsrs) algo nesse sentido. Pensei: se ficar largo, mamãe aperta do lado. 

Eu tinha a festa de entrega das Medalhas do Conselho e seria uma boa ocasião para estrear o meu "Dolce&Gabanna". 

Passando pela Turquia (era o endereço do remetente), meu vestido chegou e qual não foi minha surpresa ao perceber que aquele monte de X e G ainda não foram suficientes. Faltaram 2 dedinhos para fechar nas costas. Af! As chinesas são mesmo muito magras! Fora isso, que tecido lindo! Uma seda. Acabamento perfeito! 

Obviamente teria que contar com as mãos habilidosas de minha mãe. Ainda bem que as mangas tinham tecido de sobra e como nosso dezembro é verão, eu poderia abrir mão desse detalhe. 

Lá fomos nós - eu e o vestido - para mamãe fazer as mudanças. As mangas foram usadas para colocar uma barra de lastex nas costas e com a sobra ela adaptou uma manguinha estilo verão. Ficou lindo! Foi usado na noite memorável de homenagens sinceras, depois de tanto tempo sem podermos nos encontrar, por conta da pandemia. 

Mas, esse post não tem apenas o propósito de guardar nas Dobras do Tempo mais um vestido adaptado pela mamãe. É a minha homenagem pelo Dia das Mães. E eu quero aproveitar para corrigir um erro do passado. 

Um dia, nos meus arroubos de juventude, quando a rebeldia pelas circunstâncias falava mais alto, entristeci minha mãe ao dizer que "não sei porque ela achava que sofrer daquele modo seria um prêmio... Que quando ela morresse não teria ninguém do outro lado com um troféu na mão a dizer que ela era uma mártir, uma vencedora." (Tivemos dias muito difíceis na nossa trajetória). Hoje, quero me retratar. Quero dizer que "sim, mamãe, quando a senhora morrer (e eu desejo que seja à noite, dormindo, durante um sonho bom), a senhora irá acordar depois de um tempo em uma cama macia, e ao seu lado terá uma senhora magrinha, vestida de branco com um detalhe em azul no peito. Ela também terá um véu branco e uma medalha prateada. Quando a senhora abrir seus lindos olhos azuis, Santa Madre Tereza irá sorrir e dizer que agora a senhora pode descansar um pouco, mas que em seguida irá com ela, no caminho dos eleitos, os bons, os justos, os que muito amaram e, acima de tudo, souberam perdoar. 

Hoje eu sei, mamãe, porque renasci sua filha. Precisava de uma professora de bondade em tempo integral."

Obrigada por tudo!