Houve um tempo em que eu caminhava diariamente pela estrada de chão, carregando na mochila o peso dos livros e dos sonhos...
Mas que contradição!
Foi o tempo em que fui mais leve e feliz.
Houve um tempo em que faltava muita coisa: da luz à mesa farta; da cultura à convivência harmoniosa de um lar...
Mas veja um contrassenso!
Foi o tempo em que menos precisei de ter e mais investi em ser.
Houve um tempo em que eu acreditei no ciclo de plantar e colher (boas sementes, boa colheita)...
Mas "há algo que jamais se esclareceu (compôs em "Inverno" Calcanhoto), onde foi exatamente que larguei" a segurança da ingenuidade e maculei minha leveza, seduzida pelas promessas de um porvir com cortinas de renda e violetas na janela.
Parte II
Qual o exato momento em que me rendi ao sistema?
Durante muitos anos não consegui precisar (às vezes demora um pouco - ou muito - para que façamos as pazes com nossos equívocos).
Mas houve um dia em que descobri o real instante, ma-te-ma-ti-ca-men-te. Foi um cheiro (de nome Soie) que desencadeou o rito de passagem. Por querer encapsular o perfume aos meus dias, arrisquei, acreditei que também podia fazer parte. E tratei de fazer a vida. Nesse dia entrei (em parte) no sistema da "roda da vida".
(Eu já tinha minha autonomia financeira, mas ainda estava presa aos valores da infância - e lá eu deveria ter permanecido; consumismo para quê?)
Fiz muita coisa como manda o sistema; mas o contrariei bastante também (às vezes a gente precisa ser fiel a si mesmo).
Parte III
Hoje, ao abrir uma caixa, girar uma tampa e colocar uma única gota de óleo no pulso, o cheiro voltou...
E a vida inteirinha voltou nesse cheiro.
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*Soie quer dizer Seda.
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