"Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu fizeram-no de carne e sangra todos os dias..."
Esse pensamento de José Saramago, escritor português, Nobel de Literatura em 1998, é a fala da personagem Clara na peça de teatro de sua autoria: "A segunda vida de Francisco de Assis" (1987).
Em setembro meu coração sangrou muito. Ainda sangra e nem sei quando essa hemorragia vai cessar. Aqueles números do Covid transformaram-se em pessoas reais, próximas, queridas, com algum significado em nossas vidas. Ainda nos meses anteriores já sangrávamos pela cunhada da amiga, o tio da colega de trabalho, os tios e primos de outro companheiro de magistério, a mãe de uma professora que partilha a mesma rede de ensino... A irmã de nossa chefe, o irmão de nossa amiga poetisa... e tantas vítimas que foram se acumulando em nosso caderno de orações.
Mas, neste setembro, perder a Euzinea, nossa companheira de jornada há 31 anos na Prefeitura foi muito dolorido... Foi rápido demais! Acompanhamos sua luta com a mãezinha querida, acamada, que despediu-se da Terra dia 29 de agosto. No dia 05 nossa amiga fez sua última postagem no Facebook. Dia 19, foi a vez de seu pai dizer adeus e no dia 20 nós estávamos a chorar sua despedida. Três vítimas em uma mesma família... É como se ela tivesse deixado assuntos inacabados... ainda aguardamos sua nova postagem nas redes sociais...
A vida na Terra é passagem, bem sabemos... Mas entre saber e sentir existe um hiato que ainda não foi preenchido por teorias ou frases feitas. Há que se ter muita vivência (e carne... e sangramento... e dor) para se fazer a ponte e talvez fundir essas duas ações.
"A consciência da fragilidade da vida foi um choque que nos fez ver a nós mesmos, que nos fez ter a vida em alta conta: a vida é rara, deve ser cuidada, cultivada, mantida." (Viviane Mosé, Nietzsche Hoje, p.11).
Se meu coração sangra com a Euzinea, com a história da Viviane (não mais a Mosé) ele encontra-se estraçalhado. Em junho conhecemos Viviane, que veio adotar um daqueles cachorrinhos abandonados no Loteamento (vide as postagens de junho). Ela acabou levando a nossa "Floquinho" que virou sua Nina e agora será a Lindinha na família da Josi, Alexandre e Pietra. (Que confusão é essa, Alessandra?) Então...
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