Disciplina: Psicologia Social – 4° Período
Professor: Allan Aguiar
Aluna: Alessandra Barros Cretton
RESENHA DO CAFÉ FILOSÓFICO - BAUMAN: DIÁLOGO DA SEGURANÇA E DO EFÊMERO,
POR LEANDRO KARNAL.
O Programa Café Filosófico (54’35’’), promovido pela TV Cultura, cujo objetivo é compartilhar ideias de grandes pensadores/as contemporâneos, trouxe o professor Leandro Karnal dissertando sobre as ideias do sociólogo polonês Zigmunt Bauman, conhecido mundialmente pelo conceito de “liquidez”, distribuído em diversos livros como Amor Líquido, Medo Líquido, Vida Líquida e Tempos Líquidos, entre outros. Esse termo LÍQUIDO foi construído por Bauman a partir dos anos 2000, quando ele rompe com o discurso da Pós-Modernidade e cunha seu próprio termo. Temos que ressaltar, no entanto, que esse rompimento com a Pós-Modernidade se dá justamente porque não queria ser visto como adepto da Pós-Modernidade, e sim, crítico a ela.
Sua vida, aliás, como ressalta Karnal, foi sempre de revisão e crítica aos modelos, principalmente ao Socialismo. Bauman era socialista, mas revia o próprio socialismo histórico. Sociólogo de linguagem científica, lançou o livro Sociologia do Cotidiano com o intuito de ser entendido por mais gente.
Foi contemporâneo, como Freud, dos horrores do Holocausto e viu, ao longo do século XX as grandes transformações sociais, ressaltando que saímos da sociedade de produção para a sociedade de consumo. Freud e Bauman são de origem judaica e tinham mais interesses em comum. Em 1977, Bauman decide fazer uma releitura de o “Mal Estar na Civilização”, texto de Freud escrito em 1929-1930, que traz reflexões importantes acerca do papel da cultura na condução do mal-estar na civilização.
Freud cita (não diretamente) seu amigo Rolland e o conceito de “sentimento oceânico”, ou seja, o meu “eu” diluído no todo, a aceitação da “perda” da individualidade para diminuir o atrito e a tensão entre o “eu” e o “outro”. Daí, a necessidade, por parte de alguns (para não dizer a maioria) da religião, do time, de pertencer a alguma “tribo”.
Bauman escreve o Mal Estar na Pós-Modernidade (e faz uma alusão a Freud logo na introdução) também para analisar as questões culturais, agora com o viés da Pós-Modernidade, onde não temos mais as narrativas gerais (Karnal explica que a falência das meta-narrativas amplas, como a Bíblia, o Marxismo, entre outros é o que caracteriza esse momento Pós-Moderno). Surge o indivíduo que pensa diferente. No entanto, com a Pós-Modernidade surge a ideia do simulacro (mais valor à foto que à viagem em si, por exemplo) e a lógica cultural do capitalismo (“os shopping’s center de hoje são os novos campos de concentração”). Hoje, os afastados, os excluídos são aqueles que estão fora da cadeia do consumo. Quem não compra é o pária contemporâneo. O consumidor se transforma em objeto de consumo e coloca seu corpo como out door de marcas. (Eu diria que a maioria nem tem consciência que faz propaganda de graça para grandes marcas, enriquecendo cada vez mais seus proprietários e se mantendo na linha de consumo e pobreza, trabalhando arduamente para ter o bem que o coloca aceito no status quo determinado, não pela sociedade, como dizem, mas por uma minoria a quem muito interessa essa inconsciência coletiva).
Karnal ainda nos remete à questão do medo e da solidão, também analisados por Bauman. Nossa cultura tem pavor da solidão e as redes sociais são o delírio para os, até então, considerados excluídos. As redes promovem o contato social, mas sem o ônus do contato físico. A internet é uma complicada fórmula de isolamento. Ela nos coloca conectados, mas apenas mascara nossa solidão. Ela nos afoga em dados, como uma forma sofisticada de fazer com que ninguém mais pense (vídeos curtos, textos curtos, emojis como forma de expressão). O excesso de informação que nos mantém na superfície. Bauman responde a um jovem que diz ter conseguido 500 amigos em um dia, que, em 90 anos de vida, conseguiu reunir apenas 5 amigos. Obviamente, aqui temos modelos diferentes de amizade que Bauman não condenava, apenas fazia uma análise dos tempos de que foi testemunha. Traça uma reflexão sobre os términos de relacionamento de antes com o simples “delete” de hoje. E, ainda sobre o medo, temos a nomofobia, ou seja, o medo de estar desconectado, do telefone estar sem acesso à internet.
Karnal fala de Bauman e ressalta que o medo é instintivo (os animais também os tem), mas o medo na Pós-Modernidade é de perder a segurança. Em nome disso, permitimo-nos ser vigiados por câmeras de segurança, em todos os lugares, 24 horas por dia. Isolamo-nos atrás de grades, somos prisioneiros em nossas casas, fazemos silêncio diante das injustiças. E, então, cita o caso do brasileito Jean Charles de Menezes morto pela polícia londrina no metrô, por ser confundido (tinha as características físicas) com um terrorista. Perdemos a humanidade em função do medo. Perdemos a solidariedade. “Hegel já dizia que viver com medo é ser escravo”. E, por sermos escravos, nesses tempos modernos de tanta tecnologia (que deveria ser a nosso favor), voltamos ao Passado Retrotópico (obra póstuma de Bauman) como uma espécie de nostalgia, uma idealização do passado como um tempo melhor, mas que, em verdade, é apenas uma forma danosa de reprodução de modelos excludentes.
Karnal finaliza com uma reflexão sobre o Mito da Caverna, de Platão, considerando que só sairemos da caverna platônica quando pudermos reconhecer em cada ser um pouco de nós mesmos, se pudermos restituir o padrão humano de “todos”. Por fim, ressalta que a maior lição de Bauman não está nos inúmeros livros que escreveu, mas na vida que ele levou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário