Disciplina: Psicologia Social – 4° Período
Professor: Allan Aguiar
Aluna: Alessandra Barros Cretton
RESENHA DO CAFÉ FILOSÓFICO – FOUCAULT: A FILOSOFIA COMO MODO DE VIDA,
POR MARGARETH RAGO.
O programa Café Filosófico (49’09’’), promovido pela TV Cultura, cujo objetivo é compartilhar ideias de grandes pensadores/as contemporâneos, trouxe a fala de Margareth Rago sobre a filosofia de Foucault. Ao contrário de Karnal, quando discorre sobre Bauman, não percebi uma fala muito linear, encadeada. Margareth Rago entremeia conceitos e ideias num vai-e-vem, enxertando outros conceitos e outras ideias (retoma aos gregos, vai ao século XIX inúmeras vezes). Ainda assim, perfeitamente compreensível e que nos leva a muitas reflexões.
Foucault via o século XX com sólidas instituições sociais, no entanto, ele questionava exatamente o que parecia ser uma ordem natural. Para ele, a filosofia tem que ser praticada, ela visa à transformação, tem por objetivo “sacudir as evidências”. A função da filosofia é tornar visível aquilo que é visível. “O que é filosofar hoje em dia senão o trabalho crítico do pensamento sobre o próprio pensamento?”
Em 1975 ficou famoso ao publicar seu livro “Vigiar e Punir”, que traz um exame dos mecanismos sociais e teóricos que motivaram as grandes mudanças nos sistemas penais ocidentais durante a era moderna. Foucault mostra que a Justiça deixou de aplicar torturas mortais e passou a buscar a “correção” dos criminosos. O livro é dedicado à análise da vigilância e da punição, que se encontram em várias entidades estatais, como os hospitais, prisões e escolas.
Michel Foucault era francês e se dedicou à reflexão entre poder e conhecimento, as relações de poder entre o sujet (em francês, sujeito, no sentido de súdito) e o Estado. O Estado oprime, a sociedade reprime e coloca o sujeito no meio. Somos constituídos por técnicas de poder. Um exemplo dessa relação de poder está na definição arquitetônica da cidade e Margareth Rago explica como a segregação (que há geograficamente na arquitetura urbana entre ricos e pobres, negros e brancos, homossexuais e heterossexuais, entre outros), provoca as injustiças e, consequentemente, as formas de violência. “As pessoas não se conhecem...”
Ainda sobre o poder, Foucault diz que ele “incita, induz, desvia, facilita ou torna mais difícil, amplia ou limita, torna mais ou menos provável; no limite ele coage ou impede absolutamente, mas é sempre uma maneira de agir sobre um ou vários sujeitos ativos”(1985). O poder não age só sobre a consciência, o poder age sobre o corpo. É o que ele chamou de biopoder. Margareth exemplifica com a questão de que as mulheres não podem se sentar de qualquer jeito; os homens sim; mulheres não podem rir alto... Então, volta ao século XIX e ressalta que lá a Medicina ditou as regras sociais para as décadas seguintes, incluindo a questão da homossexualidade. Neste ponto, ela volta à Grécia e ao amor homossexual, mas num contexto diferente do abordado no século XIX. Para os gregos o amor era livre entre os iguais, e, os iguais eram apenas os homens, porque as mulheres não eram iguais aos homens, na época. (Uma viagem filosófica difícil de traduzir aqui em palavras, no entanto, muito interessante e compreensível para mim).
Além do biopoder (o governo dos corpos dos indivíduos), Foucault destacou a biopolítica, ou seja, os mecanismos da vida dos seres humanos são incluídos na gestão política de um estado, o governo da população como um todo. Amplia, ainda, a ideia do fascismo e diz que o inimigo maior, o adversário mais estratégico é o fascismo que está em todos nós, que nos faz gostar do poder. “Não se apaixone pelo poder”.
Em 1978, com o livro Nascimento da Biopolítica, Foucault fala do neoliberalismo e Margareth Rago enfatiza seu pioneirismo ao tratar desse tema com uma visão diferente: o sujeito como empresário de si mesmo e o quanto isso afeta a produção de sua subjetividade. Então, volta aos gregos e relata que, para os eles, “o homem não pode ser escravo nem dos outros e nem de si mesmo”. Discorre, ainda, sobre ascese (na filosofia grega), hermenêutica do sujeito, a vontade dos estultos, estultícia como oposto da sapiência, parresia, heterotopia... Faço um aparte para explicar o que é a parresia, que ela chama de coragem da verdade (segundo o dicionário), mas coragem no sentido de compromisso, fidelidade a si mesmo. “Na pahrresia – afirma Foucault – o falante faz uso de sua liberdade e opta por falar francamente em vez de persuadir, pela verdade em vez da mentira ou silêncio, pelo risco de morte, em vez da vida e da segurança, pela crítica em vez da bajulação, pelo dever moral, em vez dos seus interesses e da apatia moral”. Um exemplo histórico é Sócrates.
Segundo Rago, Foucault tinha o compromisso com a sua verdade e dizia que a tarefa do intelectual não é dar a verdade para as massas, definir os caminhos. O intelectual é específico, ele denuncia as formas de poder. Não existe um grande projeto de transformação social; as construções são coletivas, pequenas, em seus espaços, mas em todos os espaços. Em muitos momentos de sua biografia, Foucault rompeu com as formas de poder, e sua obra História da Loucura inaugura esse rompimento.
No final da apresentação um interlocutor questiona sobre a definição de liberdade em tempos de evaporação de significados. Rago retoma a questão da parresia falando sobre o cinismo, cujo ato de dizer a verdade está diretamente ligado às práticas da vida. “Os cínicos lutam pela verdade” e então, finaliza citando a obra “A coragem da verdade”, que eu pretendo pesquisar e ler.
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