quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Transcendência


Já disse outras vezes que algumas palavras, frases, encontram em nosso coração um lugar propício e ecoam, reverberando nas fibras da alma e efetuando realmente a mudança.

 Sempre acreditei que algumas palavras encontram eco em nós. Lemos ou ouvimos algo que bate em nosso coração e reverbera em nossa alma. E nos estremece. E aciona algum botão interior que promove a mudança. Deve ser alguma lei da Física, num dado instante, infinitesimal, em que as vibrações coincidem e se encaixam. Como engrenagens. Sutilmente.( http://dobrasdotempo.blogspot.com.br/2014/08/610-eco.html).

Também acredito que as palavras da língua materna são insuficientes para expressar com fidelidade nossos pensamentos e emoções. Os amantes da escrita precisam dominar, domar mesmo, essas caprichosas letrinhas...
Estou vivendo um momento de certa insatisfação. Desejo de mudança. Racionalmente, tudo está na mais perfeita ordem e os motivos para ser feliz, as bênçãos reconhecidas, são incontáveis. Acontece que nossas subjetividades nos escapam à razão. 
Aí, encontro uma frase que expressa, em parte, essa insatisfação:

"O discípulo de Jesus é aquele homem que já se entediou das substâncias deterioradas da experiência transitória" (Emmanuel - Vinha de Luz).

Atribuo aos meus 25 anos de magistério e ter ultrapassado a casa do 40, esse tédio das coisas que não mudam, apenas se arrastam; esses fogos fátuos que iludem, o cenário político desanimador, essas hipocrisias e máscaras que as pessoas criam para se protegerem e se dizerem felizes. Sou visceral. Não gosto de meio termo, paliativos; penso mais que minha mente pode suportar... E sofro. Não me considero discípula de Jesus, mas esforço-me por amá-LO, porque Seu Evangelho provocou eco em meu coração. Sim, se precisasse buscar uma única palavra para definir-me, eu escolheria: esforço.
Queria poder incluir também disciplina, realização, obstinação, fé, mas essas estão em estágio embrionário. São vacilantes... Ora me vejo calculando quanto poderei comprar de ração com aquele dinheiro que compraria uma sandália na promoção. E abro mão da sandália. Outras vezes, aquela bolsa vermelha, que nem está na promoção, se torna tão imprescindível quanto o pato de Jorge Amado. Ora vou para a cozinha, quantas vezes for preciso, para economizar no restaurante (entenda-se que cozinho por obrigação) e o faço com tanta dedicação que surpreendo a mim mesma. Outras vezes, preciso daquele mimo tanto quanto do ar que respiro... Ainda estou presa a dois senhores.
Isso também me entedia, me aborrece; essas inconsistências... Ou seriam inconstâncias? Olha aí as palavras e suas provocações.
E, de tanto pensar e observar, encontrei uma imagem, bem aqui na varanda dos fundos, que também pode retratar sentimentos:

Minha orquídea está quase eclodindo. Sua gestação tem levado dias...  E, todo dia, me ponho a observá-la. Em algum momento elas conseguirão se libertar e serão realmente flores. Por enquanto, são a promessa... Tanta coisa pode acontecer! Ontem me identifiquei com seu estado. Minhas asas estão assim, presas como suas pétalas. Não sei quanto tempo durará minha gestação - a transcendência; quantas vidas talvez... Só queria deixar registrado que se, às vezes, nos escapam as palavras, podemos encontrar nos retratos aquilo que o coração tanto deseja exprimir. 
Que tenhamos "olhos de ver"...

(Dedico aos 13 anos do 11 de setembro, à Mery, Lucilene e Márcio, que estiveram em minha mente enquanto eu escrevia)

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