Com toda a simbologia gritando em alto e bom som que tudo acaba, que não fica nadinha de nada, tudo é transitório, a morte está pousada em nosso ombro à espreita, e por aí vai, a conclusão que não quer calar é que o escorpiano é desapegado. Certo? Depende. Se ele se colocar ao lado da razão, então vai dizer que as coisas não tem valor, que não adianta ficar economizando porque a vida pode acabar logo ali, que ninguém leva para o túmulo as coisas materiais e assim por diante. Mas, se ele se colocar ao lado de sua sombra, aí a história é outra. É história que tem a ver com Touro, o signo oposto e ao mesmo tempo complementar de Escorpião. O apego é assunto que diz respeito ao bovino do zodíaco, que sabe muito bem como lidar com as coisas da materialidade. No caso do Escorpião, o apego é vivido como sombra, como medo, como fantasma que assola as profundezas de sua alma. Já que ele sabe que tudo um dia se desfaz como nuvem passageira, ou se afasta para não ter o gostinho de possuir o que vai irremediavelmente perder, ou entra numa "nóia" que só a nossa serpente astrológica é capaz de viver. O ciúme do escorpiano é visceral. É do tipo que quando desconfia é capaz de provocar tanto o outro, que acaba materializando o seu fantasma só para dizer: "eu não tinha razão?" E, claro, não de forma explícita, ele vai se vingar. Mas, afinal, se vingar de quem? No fundo, no fundo, ele acaba por se vingar dele mesmo. Acaba envenenado pelo próprio veneno. A sombra do apego também produz uma obstinação cega, daquelas teimosias insuportáveis. Viver tendo que aceitar os limites da matéria é coisa absolutamente insuportável para o nosso alquimista. Afinal, chumbo não pode virar ouro? Quando o escorpiano entra nessa parada, sua caverna secreta é iluminada e aí aparece toda a sua tendência destrutiva e acidez capaz de ferir quem quer que esteja na sua frente. Outro aspecto da sombra de Escorpião, que tem a ver com a falta do espírito preservador do Touro, é ser quase um masoquista quando se trata da intensidade como vive seus sentimentos.
"Sempre me considerei uma pessoa muito, muito, muito sensível. Mesmo. Nem sempre de uma forma boa, daquela sensibilidade que atrai intuições e percepções. Muitas vezes excessiva, concordo. Vou além do que determinada situação de fato representa. E um dia ouvindo minhas amigas falarem sobre as minhas "nóias", uma disse: 'sabe o que parece? Que você gosta de sofrer, só pra depois quando passar você sentir o prazer dessa transformação emocional'. Me faltaram palavras, já que eu acabara de ser desconstruída. De fato, o relaxamento proporcionado pela luz que vem depois da visita às minhas belas sombras não tem preço." É como Julie Marie descreve sua relação com a luz e a sombra de ser uma escorpiana.
Minha querida Julie, iluminadas suas sombras, ou seja, tomando consciência do valor que é preservar o que tem nas mãos, a alma de Escorpião relaxa e se transforma em entrega e brandura. É assim que suas energias se equilibram e seu poder passa a ser exercido construtivamente. Nunca esqueci as palavras de Dona Emy se referindo à má fama dos escorpianos: "não me falem mal dos Escorpiões. Se algum Escorpião te fere, sê consciente de que ele quer despertar em ti o que não querias despertar ou não eras capaz de ver. Agradeces a ele como agradeces a um cirurgião que te corta, mas te cura."
Mas vocês, Escorpiões, inspirem-se no signo oposto, Touro, e não esqueçam de dar anestesia, pois a dor do despertar pode ser suavizada com a tua doçura.
Imagem de @individuar (Instagram) |
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