quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Depois da Morte - Léon Denis

 Parte I: Crenças e Negações 

I - As religiões - A doutrina secreta

(...) As formas materiais, as cerimônias extravagantes dos cultos tinham por fim chocar a imaginação do povo.(A religião também é uma forma de controle*). Por trás desses véus, as religiões antigas apareciam sob aspecto diverso, revestiam caráter grave e elevado, simultaneamente científico e filosófico. Seu ensino era duplo: exterior e público de um lado, interior e secreto de outro e, neste último caso, reservado somente aos iniciados. (...) Adquiriu-se a prova de que todos os ensinos religiosos do passado se ligam, porque, em sua base, se encontra uma só doutrina, transmitida de idade em idade a uma série ininterrupta de sábios e pensadores. Todas as grandes religiões tiveram duas faces, uma aparente, outra oculta. (...) Para conhecê-las, é preciso penetrar o pensamento íntimo que lhes inspira e motiva a existência.(...) O domínio invisível da vida é mais vasto do que aquele que é atingido pelos nossos sentidos: lá reinam essas causas de que somente vemos os efeitos. Na Antiguidade, os sábios do Oriente e da Grécia não desdenhavam observar a natureza exterior, porém era sobretudo no estudo da alma, de suas potências íntimas, que descobriam os princípios eternos. (...) A alma, conforme seu grau de adiantamento ou de pureza, reflete, com maior ou  menor intensidade, os raios do foco divino.(...) Os adeptos eram escolhidos desde a infância para a carreira e depois levados gradualmente aos píncaros intelectuais, de onde se pode dominar e julgar a vida. (...) Somente quando tinha sabido extinguir em si o fogo das paixões, comprimir os desejos impuros, orientar os impulsos do seu ser para o Bem e para o Belo, é que o adepto participava dos grandes mistérios . 

(Exemplos: Apolônio de Tiana; Simão, o Mago;  Moisés e Cristo). Os iniciados conheciam os segredos das forças fluídicas e magnéticas. Esse domínio, a ciência oriental dos santuários havia explorado e era possuidora de suas chaves. (...) Ainda bem perto está o dia em que se reconhecerá que nada há aí de sobrenatural, mas, ao contrário, uma face ignorada da Natureza. (...) Para a doutrina secreta (ideia central que perpassa todas as doutrinas*) a vida não é mais que a evolução, no tempo e no espaço, do Espírito, única realidade permanente. A matéria é expressão inferior. O Ser por excelência é Deus, simultaneamente triplo e uno - essência, substância e vida. Deísmo trinitário, que da Índia e Egito, passou, desfigurando-se , para a doutrina cristã (?) (seria o pai, filho e espírito santo?*)

A alma é imortal, progride e sobe para o seu autor (Deus) através de existências numerosas, alternativamente terrestres e espirituais. Em suas encarnações constitui o corpo, perispírito e a alma. Torna-se um microcosmo, imagem reduzida do macrocosmo. Eis porque podemos encontrar Deus no mais profundo de nosso ser, interrogando a nós mesmos na solidão, estudando e desenvolvendo nossas faculdades latentes. (...) Se, por verem o infinito, as almas débeis ficam perturbadas, as valentes fortificam-se. É no conhecimento das leis superiores que estas vão beber a fé esclarecida, a confiança no futuro, a consolação na desgraça. Tal conhecimento produz benevolência para com os fracos, tolerância para com todas as crenças. Krishna, Zoroastro, Hermes, Moisés, Pitágoras, Platão e Jesus: todos os que têm posto ao alcance das multidões as verdades sublimes. (...) Os discípulos não souberam guardar intactas a herança dos mestres . Mortos estes, seus ensinos ficaram desfigurados por alterações sucessivas. Bem depressa as religiões perderam sua simplicidade. (...) Até mesmo ao seio dos templos levou o homem as suas misérias morais. Por isso, em cada religião, o erro mistura-se com a verdade. Pergunta-se algumas vezes se a religião é necessária. Há na alma um sentimento natural que a arrasta para um ideal de perfeição, (...)  móvel de grandes e generosas ações. Mas, falseado pelas inquietações da teocracia, tornou-se, muitas vezes, instrumento de dominação. 

A religião é necessária e indestrutível porque se baseia na própria natureza do ser humano. Para exercer influência salutar, deve-se despojar dos disfarces com que se revestiu através dos séculos. A verdadeira religião é um sentimento. É no coração que está o melhor Templo, não nas manifestações exteriores. (...) Deve-se compreender que nem todos os homens se acham em vias de atingir os píncaros intelectuais. Eis porque tolerância e benevolência são coisas que não se impõem. (...) A ideia de Deus foi desnaturada pelo temor do inferno. (...) Rebaixaram Deus ao nível de suas paixões. As claras noções da religião natural foram obscurecidas. Os dogmas perverteram o critério religioso. (...) Daí um acervo de superstições.(...) As religiões, imobilizadas em seus dogmas, agonizam, perderam quase toda a influência sobre os costumes (estamos vivendo sob a égide da ciência*). (...) O progresso material e intelectual desafia o progresso moral. O sentimento e a razão tendem a se conciliarem. A religião deve perder seu caráter dogmático para tornar-se científica.  (...) Será o aparecimento da religião natural, que renascerá simples, sem cultos e nem altares. A religião passará para os atos, para o desejo ardente do bem. Tal é a doutrina superior, definitiva, universal, no seio da qual serão absorvidas, como os rios pelo oceano, todas as religiões passageiras, contraditórias, causas frequentes de dissidências na Humanidade. 

https://youtu.be/v2LW3qSBUgk?si=f9W65q7YPkKOy1Fc

https://youtu.be/PdeQ_1GwI6A?si=GlT7RrpPF5h0XUoq

Nenhum comentário:

Postar um comentário