sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Memorial Norma Corrêa Medeiros Mello (por ela mesma)

 

MEMORIAL – NORMA CORRÊA MEDEIROS MELLO

No dia 02 de agosto de 1955, conheci a luz do dia, da vida fora do útero quentinho de minha mãe.  Nasci na zona rural, em uma localidade denominada Campo Belo / Marangatu e por lá vivi os melhores e mais significativos anos de minha vida!

Sou filha de agricultor com muito orgulho. Meu pai, de quem sinto muita saudade, o sr. Iris Brasil Medeiros, era um homem de voz suave, doce mesmo e, assim, com seu jeito manso de falar, cativava a todos que com ele conviveram.

Para falar sobre minha mãe... hum, fico pensando, sobre o que dizer da pessoa que me deu a vida, que me carregou no ventre? Palavras faltam-me, mas digo que ela foi uma mãe extremamente carinhosa, amorosa, e de personalidade marcante. Dona Benedita Corrêa Medeiros (carinhosamente cognominada de Doquinha) foi meu maior exemplo; tinha um coração que não cabia no peito. A saudade caminha comigo, mas digo: saudade tem quem viveu esse amor ou de amor e tem boas lembranças para contar.

O mundo das letras chegou muito suave, pois veio através de minha mãe.  Apesar de ela não ter nenhuma graduação, não faltou boa vontade e ela me apresentou os números e as letras.  Me orgulho em dizer que minha mãe me ensinou a ler. Quem quer coisa melhor, do que aprender com a pessoa que tanto me amou e a quem eu sigo amando?

Na escola, meu primeiro contato foi aos 8 anos de idade. Cheguei cheia de curiosidade para descobrir o novo mundo. Estava maravilhada!

Cheguei já sendo avaliada para que pudessem me encaixar adequadamente, visto que, já cheguei lendo! Após a prova, fui apresentada aos colegas da antiga 2ª série e com eles segui por todo curso primário.

Assim foi minha entrada triunfal no Grupo Escolar Deputado Salim Simão, do qual trago comigo as amizades que fiz, o carinho pelos professores e muitas, muitas boas lembranças.

 Cursei o ensino secundário (curso ginasial) no Colégio Estadual Rui Guimarães de Almeida. Creio eu, que foi desde essa época que fiz minha escolha profissional – ser professora! Assistia às aulas extasiada, com o carinho, a dedicação e o conhecimento de tantos profissionais, que ainda hoje, permanecem vivos na minha lembrança de forma positiva e inspiradora.

Consciente do que desejava ser por toda a vida, fiz o Ensino Médio no Colégio Cenecista Caribé da Rocha (curso Normal) - formação de professores – concluindo o mesmo no ano de 1975. Parece que foi ontem!

Lembro-me do baile de formatura no Campestre Pádua Clube, a valsa na qual meu pai me conduziu suavemente!  A presença do paraninfo da turma, figura pública, o político, saudoso Sr. Frederico de Alvim Padilha. Tudo guardado na caixinha de memórias...felizes memórias!

E novas conquistas vieram, fui aprovada no vestibular no ano seguinte, para cursar LETRAS, na “Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Professora Nair Fortes Abu-Merhy” – Além Paraíba – Minas Gerais. Sentia que muitas mudanças viriam e vislumbrava novos horizontes... Aconteceu o inesperado!

Fui convidada para ocupar a cadeira da querida professora de Português, no Colégio Cenecista no qual estudei. Foi muita emoção e o peso da responsabilidade em substituir alguém com tanto saber e sabedoria, a saudosa prof ª Coralina Leite Vilela.

Por lá trabalhei longos anos, concluindo minha graduação em Letras no ano de 1979; sempre prestando meus serviços de professora em minha querida Pádua.

Os anos 80 deixaram muitas marcas em minha vida. Fiz meu primeiro concurso público. Aprovada e feliz, não consegui ocupar minha tão sonhada vaga. Dissabor esse, que fez com que eu alçasse novos voos. Fui para Angra dos Reis...encontrando abrigo na residência de minha irmã e sendo acolhida por estranhos que o tempo mostrou o quão amigos eram.

Chegando em Angra, saí logo à procura de trabalho. Fui sozinha. E, para surpresa de minha irmã retornei com emprego arrumado. Fui contratada pela Prefeitura Municipal e, confesso, que foi um passo bem dado. Encontrei muitas paduanas que àquela época iam para Angra pela facilidade em encontrar trabalho e pelo bom salário.

Pouco tempo depois, fui convidada para supervisionar a área de Língua Portuguesa e foi um aprendizado muito proveitoso.

Ainda me lembro do barulho das águas do mar indo para a Ilha Grande / Vila do Abraão para visitar a escola municipal da localidade.

Saudades ficaram!

Nessa mesma década, vindo visitar a família, reencontrei o paduano José Israel Mello Duarte. Foi pouco tempo de namoro e noivado. Casamos e fomos morar em Duque de Caxias, onde ele trabalhava. E eu, continuei trabalhando em Angra. Indo e voltando toda semana.

Com o nascimento do maior presente que Deus poderia nos ofertar, a filha Natália, resolvemos retornar para criá-la mais próximo da família. Filha esta, que hoje é médica atuante em nossa cidade.

Como disse Cora Coralina: Desistir... eu já pensei seriamente nisso, mas nunca me levei realmente a sério; é que tem mais chão nos meus olhos do que o cansaço nas minhas pernas, mais esperança nos meus passos do que tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça.”

Retornamos para nossa querida Pádua. Prestei novo concurso público e, mais uma vez aprovada, consegui ocupar meu cargo.

Iniciei minha trajetória no Colégio Estadual Frei Thomás (Itaocara). Em pouco tempo fui transferida para o Colégio Estadual Manoel Miguel Souto (Campelo). Quanto acolhimento! E, posteriormente, vim para o Colégio Estadual Rui Guimarães de Almeida. Desses colégios, guardo no coração passagens e pessoas inesquecíveis. Realizei o sonho de minha vida!  Feliz e com a missão cumprida me aposentei em 2011, assim me despedindo do Colégio Estadual Rui Guimarães de Almeida.

Desde 2004, ministro aulas de Língua Portuguesa no colégio CEPRA (CENTRO EDUCACIONAL PROFESSOR RUI AZEVEDO) e me orgulho de participar do mesmo desde sua criação.

É extremamente gratificante entrar na sala de aula e um pequeno perguntar:

__ Sabe de quem sou filho? Sou filho do seu ex-aluno ..... e ele me disse que a senhora é muito brava, muito carinhosa e muito competente. Isso não tem preço!

No CEPRA, em 2017, junto ao parceiro Prof. Leandro Rabelo, criamos o POEPRA (Festival de Poesias do CEPRA). É um evento de alto nível, já fazendo parte do calendário escolar. Uma verdadeira descoberta de talentos.

Reencontrar meus ex-alunos e vê-los comprometidos com o trabalho, realizados, muito me orgulha, porque direta ou indiretamente, fiz parte dessa história.

 Este ano me despeço das salas de aula, grata a Deus, a família CEPRA, agora para seguir a vida, ofertar lugar ao outro, como um dia foi-me ofertado e, com a tranquilidade de quem deixa naqueles que por mim passaram bons exemplos, conhecimentos e ensinamentos para a vida, levo na  lembrança a imagem de cada um e de todos, de momentos compartilhados, aprendizado, troca de experiências e, principalmente a certeza de que cada atitude tomada por mim foi baseada no respeito e amor ao próximo.

Lembrando, um tanto saudosa, um antigo diretor que dizia ”não gosto das regras, mas admiro a Norma.”

            Depois de ouvirmos essa narrativa em 1ª pessoa, que nos remete a uma linda viagem no tempo, queremos dizer, Profª Norma, que seu legado para Santo Antônio de Pádua ultrapassa diversas gerações... Estar no chão da sala de aula por 45 anos é tarefa para nobres guerreiros. E que bom que o Universo conspirou para que pudéssemos laureá-la em seu último ano na docência! Parabéns! Obrigada! Receba a Medalha de Mérito Educacional Profª Thereza Caldas, n° 16, com a eterna gratidão da educação paduana.






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