No filme Tarzan (Disney, 1999) há uma cena fantástica em que Jane está sendo perseguida pelos babuínos, logo após ter contrariado um filhote, negando-lhe um de seus desenhos. O herói aparece para salvá-la e, ao final dessa cena, ela tenta fugir de Tarzan pulando um desfiladeiro. Como não tinha pernas suficientes, fica atravessada (nem lá nem cá). Então, diz a si mesma: "não pode piorar". Imediatamente começa a chover. "Pode", conclui.
Essa situação me veio à mente, ao reler as publicações anteriores de Trabalho, Pão e Circo (2013 e 2014). Como o otimismo é minha predisposição íntima para encarar os fatos da vida, não imagino realmente que as coisas possam piorar. Sempre acho que é possível, que tem um jeito, que se pode melhorar. Acontece que 2015 já começou com uma nuvem de incertezas e inseguranças para todos nós, brasileiros. A bolha finalmente explodiu e trouxe de volta o fantasma da inflação (que eu conheci muito bem antes de 1994), o aumento da gasolina, da energia elétrica, e todos os desdobramentos que ocorrem a partir daí. Nossa presidente viu seus índices de aceitação e popularidade despencarem, o povo voltou às ruas em duas grandes manifestações, houve panelaço e apagão durante pronunciamentos da presidente - que por conta disso tudo, cancelou o tradicional pronunciamento de 1º de maio; enfim, estamos vivendo dias de "folia e caos" (Na moral - Jota Quest). Nossa Pátria Educadora tem visto professores sendo agredidos por policiais nas ruas do Paraná (o que tem mesmo depois do fundo do poço?), tem atrasado as bolsas dos diversos programas de formação docente e discente, também não consegue decolar neste lema tão bonito.
No âmbito estadual, as coisas não caminham diferentes. Com os cortes federais, as verbas estaduais diminuíram e o efeito cascata se faz notar. A internet dos professores estaduais já foi cortada, os diretores sofrem a pressão por economizar, nem se cogita em aumento salarial. Querem nos fazer engolir outro lema: "deem graças a Deus porque o salário ainda está sendo pago em dia". Estão se esquecendo que primeiro trabalhamos para depois recebermos, então o nosso trabalho já esteve em dia... foi cumprido. Logo, o pagamento não é nenhum favor, é obrigação.
Descendo à esfera municipal, parece que estamos numa verdadeira revolução astral. Nosso prefeito encontra-se internado no Hospital São José do Avaí, em Itaperuna, com uma pneumonia dupla, agravada por outros sintomas. O que pode parecer pior do que isso para ser mencionado neste Dia do Trabalho?
Enquanto aguardamos os astros se reposicionarem, passamos mais um 1º de maio sem aumento do funcionalismo municipal, novamente as demissões para ajustes da folha de pagamento, uma crise de ânimos...
Não sou historiadora, mas tenho um olhar espacial (de espaço mesmo) dos fatos e percebo que o que entra para a história são os feitos - ações que realmente fizeram diferença. Em 2013 não tivemos aumento do servidor, em 2014 o reajuste salarial de 6% veio em outubro, no último trimestre; para 2015, nenhuma luz se faz presente. O piso do professor está muito aquém do proposto pelo Piso Nacional (e como nossos professores trabalham!), os demais servidores aguardam ansiosamente seus Planos de Carreira. Por outro lado, também sei que os grandes programas se sustentam por pequenos projetos, ações mínimas que vão se agrupando dia a dia e garantem a estrutura do sistema. Nosso pagamento está devidamente em dia, os enquadramentos dos professores estão sendo realizados, o servidor já dispõe do conforto do contracheque online. A equipe da Educação se une na construção do Plano Municipal de Educação para o próximo decênio, que deve ser aprovado até 24 de junho. Reúne mais força para garantir que o Desfile Comemorativo ao aniversário do município vá às ruas e repita o sucesso de 2014. Também precisamos do Circo, lembra?
Acredito e desejo que em todos os segmentos da nossa querida Pádua, esteja acontecendo um somatório de forças para suplantar essa crise. Feliz inspiração o tema para o desfile deste ano:
"Eu canto porque o instante existe
Seja no momento alegre ou triste
Sou paduano"!
Na minha esfera particular, também vivo minhas crises existenciais. Um rasgo abriu-se em meu peito em agosto do ano passado, quando visitei o Canil Municipal pela primeira vez e a ferida não cessa de sangrar. Mas deixarei essas considerações para o Dia de São Francisco.