De "Livro das Horas"
Nélida Piñon
- "Choro ao ouvir Villa-Lobos. Ele parece dizer quem sou e me faz esquecer compromissos cosmopolitas que acaso assumi com a engrenagem civilizatória."
- "Reconheço-me escrava da memória que não apago com borracha."
- "Questiono se tenho aptidão para viver."
- "Também não me ajusto a este tempo."
- "Fabulo a qualquer pretexto."
- "Viver, agora, é minha única estratégia. Sem pretender a santidade, o que já é um alívio. Ou conciliar o meu caos com os conflitos sociais."
- "O amor reclama palavras porque sabe que o corpo não fala."
- "Dar término, pois, à história é recolher nas entranhas o gosto da dor."
- "Vejo que, a despeito de estar cercada de afetos, sou turista na alma. E, mesmo não querendo o coração empedernido, desconfio da geografia e da população deste planeta. Assim, viajo com o espírito de quem deu início a uma aventura sem saber como há de terminar."
- "Sou eu quem deve pleitear a minha transformação, como me aprimoro. Só mediante meus recursos estabelecerei uma escala de valores."
- "A vida sabe como batalho por auscultar a minha humanidade."
- "... a escrita me devolve a mim mesma."
- "... escrevia no caderno a frase oriunda da mala dos sonhos."
- "No cumprimento de minha jornada, aspiro tão somente ser guardiã de mim mesma."
- "O cotidiano é inimigo do artista. Apresenta-se sob a forma de compromissos sociais, de chamadas telefônicas, de faturas e de tarefas que roubam e não devolvem o troco. Ações que consomem o tempo, incapacitam-nos a desfrutar do lar, em cujas paredes, frias e descascadas, se abatem as ilusões."
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