Memorial Vera Lúcia Kezen Camilo Jorge – 2ª edição/2019
Um poema publicado por Olavo Bilac e presente nos
livros didáticos de sucessivas gerações nos convida: “ama, com fé e orgulho, a
terra em que nasceste”. Ao lermos o currículo da Profª Vera Lúcia Kezen Camilo
Jorge, que provavelmente declamou esse poema, ainda pequenina, nos bancos
escolares do Barão de Teffé - onde foi alfabetizada e fez o curso primário, com
uma única professora, Dona Lolita, temos a certeza que ela não só aceitou o
convite como fez de sua vida a grandeza proposta por Bilac.
Filha de Eunice Fernandes Kezen e José Kezen, herdou
de seus pais as principais características que os destacavam: dinamismo, engajamento
político e social, luta pelo desenvolvimento e progresso paduano. Ao lado de
sua única irmã, Valéria Fernandes Kezen Leite, também professora de renome em
Santo Antônio de Pádua, faz jus ao provérbio “a lasca não voa longe do tronco”.
Este provérbio denota o poder de síntese da sabedoria popular e é empregado
para atestar que determinado indivíduo é bom ou ruim devido às influências
recebidas de seus antepassados. No caso de nossa homenageada, o olhar não se
volta apenas para suas raízes, mas para seus descendentes. Casada com Dr. Elias
Camilo Jorge, médico cardiologista, e com vasto currículo político, tem 3
filhos: Maritsa, advogada; José Kezen, médico cardiologista e Elias Junior,
também advogado. Ainda nessa árvore vamos encontrar 4 netos: Sophia, Antenor,
Pedro e João.
Pela herança familiar convertida em mais de 50 anos
dedicados à Educação, pelo grande legado nas diversas esferas de atuação - que
vamos brevemente discorrer nesse Memorial, podemos garantir que hoje a Profª
Vera passa à condição de tronco-matriarca, deixando ao redor de si novas
lascas, porque a história não pode parar...
Essa história saiu dos bancos escolares do Barão de
Teffé e Colégio de Pádua e continuou em Niterói, onde a jovem e sonhadora Vera
Lúcia concluiu seus estudos no Curso Normal e, em seguida, graduou-se em
Pedagogia pela Universidade Federal Fluminense, em 1966.
No entanto, ainda em 1963 iniciou sua carreira como
professora primária, após aprovação em concurso público, no Grupo Escolar Hilka
Peçanha, em Itaboraí, RJ. Nessa escola viveu momentos de grande alegria, numa
época em que os professores eram muito valorizados e pequenos gestos, como
oferecer frutas, doces, ovos e até mesmo frangos, denotavam mais que a
gratidão, essa consideração pela figura do professor.
De 1964 a 1966 passou a ter exercício da docência no
Jardim de Infância Júlia Cortins, em Niterói. No ano seguinte retornou à Pádua
e no Barão de Teffé recebeu sua primeira turma de alfabetização, constituída
por aqueles alunos que já eram repetentes e muito indisciplinados. “Entrei em
pânico” ela confessa, mas como sempre gostou de enfrentar desafios, estudou
muito e conseguiu alfabetizar a maioria da turma. Anos depois, no evento da “Giroletras”,
uma feira de livros promovida pela Secretaria Municipal de Educação, durante
sua gestão como Secretária, um homem se aproximou e disse: “Professora Vera, sabe quem sou eu?” E prosseguiu: “Eu tenho que agradecer... Sou daquela turma
do Barão de Teffé que a senhora ensinou a ler e escrever. Lembra como éramos
levados?! Muito obrigado, a senhora mudou a minha vida...”
Quantos mais poderiam se aproximar da Profª Vera com
o mesmo intuito? Difícil precisar... Foi professora do Colégio Estadual Rui
Guimarães de Almeida onde lecionou Matemática, Educação Moral e Cívica,
Didática e Estágio Supervisionado no Curso de Formação de Professores. Foi professora
Assistente da Faculdade de Filosofia Santa Dorotéia de Nova Friburgo nas
disciplinas de Princípios e Métodos de Supervisão para Escolas de 1º e 2º
graus, Estágio Supervisionado e Didática. Mas sua influência não se deu apenas
nas salas de aula. Nos anos que se seguiram exerceu inúmeras funções de
coordenação, inspeção, supervisão, gerência, trabalhos em comissão nos
diferentes setores educacionais. Presidir a Comissão de Reestruturação do
Sistema Estadual de Supervisão Educacional na Secretaria Estadual de Educação –
RJ foi algo “revolucionário” ela confidencia, complementando a frase com um
“ah...”, como a expressar um misto de boa lembrança, saudade e orgulho.
Tamanha responsabilidade exigia preparação. Em seu
currículo vamos encontrar essa base sólida, pois entre os anos de 1973 e 1975,
voltou aos bancos escolares para obter as habilitações em Administração Escolar,
na Faculdade Santa Marcelina, em Muriaé e Supervisão Escolar, na Faculdade
Santa Dorotéia, em Nova Friburgo. Mais adiante, fez sua terceira Pós-Graduação
em Metodologia do Ensino Superior, na Faculdade de Filosofia de Campos. Mesmo com
total dedicação à causa da Educação, sempre acalentou o sonho de ser advogada.
Esse sonho veio a se concretizar em 1996 e sob a inscrição 99.605 é credenciada
junto à Ordem dos Advogados do Brasil - OAB.
Com a política a correr-lhe nas veias, participou da
conquista de 8 (oito) mandatos legislativos estaduais e também das eleições
municipais. De 2001 a 2008 integrou a equipe de governo do prefeito Luís
Fernando Padilha Leite, assumindo a pasta da Educação. Nos 4 (quatro) anos
seguintes deu continuidade à tarefa durante o mandato do prefeito José Renato
Fonseca Padilha, completando 12 anos à frente da Secretaria Municipal de
Educação e Cultura em Santo Antônio de Pádua. Para falar com a merecida
propriedade sobre esses 12 anos teríamos que escrever um memorial à parte, o que
prolongaria por demais a fala do momento. No entanto, a própria Profª Vera,
reconhecendo que a obra supera o domínio do autor, publicou o livro “Por amor à
Educação”, em julho de 2018, discorrendo sobre os inúmeros projetos, conquistas
e prêmios; o trabalho em equipe, as parcerias e os desafios vivenciados na sua
gestão. Tal obra serve de inspiração às presentes e futuras gerações,
principalmente àqueles que desejam trabalhar com afinco nos caminhos da
educação e cultura. Por sermos testemunha ocular dos fatos aqui narrados vamos
destacar apenas alguns que lhe tocam o coração e nos colocam na confortável posição
de falar sobre aquilo que vivenciamos. Em 2006, a Secretaria de Educação
inscreveu o projeto “Jogos e Atividades Matemáticas nas Escolas da Rede Pública
Municipal” no Prêmio Inovação em Gestão Educacional, promovido pelo MEC,
ficando entre os 20 finalistas de todo o Brasil. A equipe do MEC esteve “in
loco” para comprovar as evidências do projeto e ele passou a fazer parte do
Laboratório de Experiências Inovadoras em Gestão Educacional. Por conta disso,
em 2008, a Profª Alessandra Cretton esteve em Brasília no Fórum Extraordinário
de Dirigentes Municipais de Educação para Relato da Experiência. Nesse mesmo
Fórum o município de Santo Antônio de Pádua, ali representado pela Profª Vera,
recebeu uma homenagem como um dos 37 municípios do Brasil que garantia o
direito de aprender. A pesquisa realizada pelo UNICEF comprovava a qualidade da
educação oferecida às crianças e jovens na rede municipal, elencando diversos
fatores quantitativos e qualitativos que fundamentavam os resultados. Tal
experiência foi compilada no livro Redes de Aprendizagem – Boas práticas de 37
municípios que garantem o direito de aprender.
Como uma ação puxa outra, os resultados não pararam por
aí. O Programa Globo Educação, iniciativa da Rede Globo e do Canal Futura,
exibiu no dia 11 de julho de 2009, a experiência bem sucedida que a Escola
Municipal Viva vinha realizando em relação às práticas inovadoras no ensino da
Matemática, com utilização de jogos diversos, atividades desafiadoras e a
prática do xadrez no espaço escolar. Aqui nos cabe ressaltar que a Escola
Municipal Viva, carinhosamente chamada de “Escola Viva”, foi fundada em 2002,
por iniciativa da Profª Vera Lúcia, quando idealizou um projeto homônimo para a
primeira gestão do Governo Nando - 2001 a 2004. Foi ainda a Escola Viva que
elevou Pádua ao pódio, em 2011, conquistando o 1º lugar no IDEB do 5° ano e 3°
lugar no IDEB do 9° ano. Esse resultado, associado a outros indicadores de
qualidade, conferiu à Secretaria o “Prêmio SESI/FIRJAN Educação”, com uma viagem
de estudos à Singapura e Coréia do Sul. Na edição seguinte do IDEB, Pádua
manteve-se no pódio, em 3° lugar.
Ainda na função de gestora municipal de educação
atuou dinamicamente na UNDIME – RJ, como Secretária de Articulação. Enquanto
nos Fóruns promovidos pela União dos Dirigentes Municipais de Educação os
participantes ficavam liberados às 22 horas, após o encerramento das pautas
noturnas, ela passava para outra etapa da programação: a reunião dos membros do
Conselho da UNDIME, que varava madrugada adentro. Isso justifica, dentre outras
coisas, seu famoso bordão “de meia-noite às duas”.
Receita Criativa, Prêmio Professor Nota 10, Xadrez
Gigante, Formação Continuada dos Professores e Pessoal de Apoio, Jornadas
Pedagógicas, Giroletras, Folclore, Desfile Cívico-Comemorativo, dentre tantas atividades,
também comprovam a grandeza mencionada no início deste memorial. Enfim, não
quero cansar os ouvintes enumerando todas as qualidades e feitos, mas estejam
certos que são vastos e de muito valor.
Se muito a Profª Vera tem a agradecer à terra em que
nasceu - a cidade do areião de sua infância e hoje das águas e das pedras -, mais
ainda lhe deve Santo Antônio de Pádua em gratidão, por ela amar e honrar o solo
paduano em todo o território nacional e também fora dele. Desde 2006 é membro
efetivo da APLAC – Academia Paduana de Letras, Artes e Ciências, mantendo-se em
atividade até os dias atuais.
Pelo pouco que se declarou e pelo muito que se
omitiu neste memorial, podeis ter uma certeza Profª Vera Lúcia Kezen Camilo
Jorge - és uma vencedora! Teu legado encontra-se impregnado na história paduana
e dignifica esta medalha, instituída pelo Conselho Municipal de Educação. Ser
indicada a receber tal honraria, junto com tantas outras, como a Medalha de
Mérito Legislativo Maria Azevedo Gonçalves – Mariquinha Cebola, Medalha
Frederico de Alvim Padilha e Troféu Carlos Drummond de Andrade, representa um
ato de consideração à memória de sua contemporânea e amiga Profª Maria Thereza
Caldas Vellasco. Obrigada! Muito obrigada por dividir conosco esse momento de
reconhecimento e gratidão.
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Em tempo: coincidentemente a Profª Vera ocupou a
cadeira Olavo Bilac no período que fez parte do Conselho Municipal de Cultura,
entre os anos de 1975 e 1978.
(Escrito por Alessandra Barros Cretton, a partir de
informações fornecidas pela própria homenageada, em questionário).
Mulher e profissional exemplar.
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