terça-feira, 26 de novembro de 2019

(Breve) Memorial Vera Lúcia Kezen Camilo Jorge


Memorial Vera Lúcia Kezen Camilo Jorge – 2ª edição/2019 

Um poema publicado por Olavo Bilac e presente nos livros didáticos de sucessivas gerações nos convida: “ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste”. Ao lermos o currículo da Profª Vera Lúcia Kezen Camilo Jorge, que provavelmente declamou esse poema, ainda pequenina, nos bancos escolares do Barão de Teffé - onde foi alfabetizada e fez o curso primário, com uma única professora, Dona Lolita, temos a certeza que ela não só aceitou o convite como fez de sua vida a grandeza proposta por Bilac.
Filha de Eunice Fernandes Kezen e José Kezen, herdou de seus pais as principais características que os destacavam: dinamismo, engajamento político e social, luta pelo desenvolvimento e progresso paduano. Ao lado de sua única irmã, Valéria Fernandes Kezen Leite, também professora de renome em Santo Antônio de Pádua, faz jus ao provérbio “a lasca não voa longe do tronco”. Este provérbio denota o poder de síntese da sabedoria popular e é empregado para atestar que determinado indivíduo é bom ou ruim devido às influências recebidas de seus antepassados. No caso de nossa homenageada, o olhar não se volta apenas para suas raízes, mas para seus descendentes. Casada com Dr. Elias Camilo Jorge, médico cardiologista, e com vasto currículo político, tem 3 filhos: Maritsa, advogada; José Kezen, médico cardiologista e Elias Junior, também advogado. Ainda nessa árvore vamos encontrar 4 netos: Sophia, Antenor, Pedro e João.
Pela herança familiar convertida em mais de 50 anos dedicados à Educação, pelo grande legado nas diversas esferas de atuação - que vamos brevemente discorrer nesse Memorial, podemos garantir que hoje a Profª Vera passa à condição de tronco-matriarca, deixando ao redor de si novas lascas, porque a história não pode parar...
Essa história saiu dos bancos escolares do Barão de Teffé e Colégio de Pádua e continuou em Niterói, onde a jovem e sonhadora Vera Lúcia concluiu seus estudos no Curso Normal e, em seguida, graduou-se em Pedagogia pela Universidade Federal Fluminense, em 1966.
No entanto, ainda em 1963 iniciou sua carreira como professora primária, após aprovação em concurso público, no Grupo Escolar Hilka Peçanha, em Itaboraí, RJ. Nessa escola viveu momentos de grande alegria, numa época em que os professores eram muito valorizados e pequenos gestos, como oferecer frutas, doces, ovos e até mesmo frangos, denotavam mais que a gratidão, essa consideração pela figura do professor.
De 1964 a 1966 passou a ter exercício da docência no Jardim de Infância Júlia Cortins, em Niterói. No ano seguinte retornou à Pádua e no Barão de Teffé recebeu sua primeira turma de alfabetização, constituída por aqueles alunos que já eram repetentes e muito indisciplinados. “Entrei em pânico” ela confessa, mas como sempre gostou de enfrentar desafios, estudou muito e conseguiu alfabetizar a maioria da turma. Anos depois, no evento da “Giroletras”, uma feira de livros promovida pela Secretaria Municipal de Educação, durante sua gestão como Secretária, um homem se aproximou e disse: “Professora Vera, sabe quem sou eu?” E prosseguiu: “Eu tenho que agradecer... Sou daquela turma do Barão de Teffé que a senhora ensinou a ler e escrever. Lembra como éramos levados?! Muito obrigado, a senhora mudou a minha vida...”
Quantos mais poderiam se aproximar da Profª Vera com o mesmo intuito? Difícil precisar... Foi professora do Colégio Estadual Rui Guimarães de Almeida onde lecionou Matemática, Educação Moral e Cívica, Didática e Estágio Supervisionado no Curso de Formação de Professores. Foi professora Assistente da Faculdade de Filosofia Santa Dorotéia de Nova Friburgo nas disciplinas de Princípios e Métodos de Supervisão para Escolas de 1º e 2º graus, Estágio Supervisionado e Didática. Mas sua influência não se deu apenas nas salas de aula. Nos anos que se seguiram exerceu inúmeras funções de coordenação, inspeção, supervisão, gerência, trabalhos em comissão nos diferentes setores educacionais. Presidir a Comissão de Reestruturação do Sistema Estadual de Supervisão Educacional na Secretaria Estadual de Educação – RJ foi algo “revolucionário” ela confidencia, complementando a frase com um “ah...”, como a expressar um misto de boa lembrança, saudade e orgulho.
Tamanha responsabilidade exigia preparação. Em seu currículo vamos encontrar essa base sólida, pois entre os anos de 1973 e 1975, voltou aos bancos escolares para obter as habilitações em Administração Escolar, na Faculdade Santa Marcelina, em Muriaé e Supervisão Escolar, na Faculdade Santa Dorotéia, em Nova Friburgo. Mais adiante, fez sua terceira Pós-Graduação em Metodologia do Ensino Superior, na Faculdade de Filosofia de Campos. Mesmo com total dedicação à causa da Educação, sempre acalentou o sonho de ser advogada. Esse sonho veio a se concretizar em 1996 e sob a inscrição 99.605 é credenciada junto à Ordem dos Advogados do Brasil - OAB.
Com a política a correr-lhe nas veias, participou da conquista de 8 (oito) mandatos legislativos estaduais e também das eleições municipais. De 2001 a 2008 integrou a equipe de governo do prefeito Luís Fernando Padilha Leite, assumindo a pasta da Educação. Nos 4 (quatro) anos seguintes deu continuidade à tarefa durante o mandato do prefeito José Renato Fonseca Padilha, completando 12 anos à frente da Secretaria Municipal de Educação e Cultura em Santo Antônio de Pádua. Para falar com a merecida propriedade sobre esses 12 anos teríamos que escrever um memorial à parte, o que prolongaria por demais a fala do momento. No entanto, a própria Profª Vera, reconhecendo que a obra supera o domínio do autor, publicou o livro “Por amor à Educação”, em julho de 2018, discorrendo sobre os inúmeros projetos, conquistas e prêmios; o trabalho em equipe, as parcerias e os desafios vivenciados na sua gestão. Tal obra serve de inspiração às presentes e futuras gerações, principalmente àqueles que desejam trabalhar com afinco nos caminhos da educação e cultura. Por sermos testemunha ocular dos fatos aqui narrados vamos destacar apenas alguns que lhe tocam o coração e nos colocam na confortável posição de falar sobre aquilo que vivenciamos. Em 2006, a Secretaria de Educação inscreveu o projeto “Jogos e Atividades Matemáticas nas Escolas da Rede Pública Municipal” no Prêmio Inovação em Gestão Educacional, promovido pelo MEC, ficando entre os 20 finalistas de todo o Brasil. A equipe do MEC esteve “in loco” para comprovar as evidências do projeto e ele passou a fazer parte do Laboratório de Experiências Inovadoras em Gestão Educacional. Por conta disso, em 2008, a Profª Alessandra Cretton esteve em Brasília no Fórum Extraordinário de Dirigentes Municipais de Educação para Relato da Experiência. Nesse mesmo Fórum o município de Santo Antônio de Pádua, ali representado pela Profª Vera, recebeu uma homenagem como um dos 37 municípios do Brasil que garantia o direito de aprender. A pesquisa realizada pelo UNICEF comprovava a qualidade da educação oferecida às crianças e jovens na rede municipal, elencando diversos fatores quantitativos e qualitativos que fundamentavam os resultados. Tal experiência foi compilada no livro Redes de Aprendizagem – Boas práticas de 37 municípios que garantem o direito de aprender.
Como uma ação puxa outra, os resultados não pararam por aí. O Programa Globo Educação, iniciativa da Rede Globo e do Canal Futura, exibiu no dia 11 de julho de 2009, a experiência bem sucedida que a Escola Municipal Viva vinha realizando em relação às práticas inovadoras no ensino da Matemática, com utilização de jogos diversos, atividades desafiadoras e a prática do xadrez no espaço escolar. Aqui nos cabe ressaltar que a Escola Municipal Viva, carinhosamente chamada de “Escola Viva”, foi fundada em 2002, por iniciativa da Profª Vera Lúcia, quando idealizou um projeto homônimo para a primeira gestão do Governo Nando - 2001 a 2004. Foi ainda a Escola Viva que elevou Pádua ao pódio, em 2011, conquistando o 1º lugar no IDEB do 5° ano e 3° lugar no IDEB do 9° ano. Esse resultado, associado a outros indicadores de qualidade, conferiu à Secretaria o “Prêmio SESI/FIRJAN Educação”, com uma viagem de estudos à Singapura e Coréia do Sul. Na edição seguinte do IDEB, Pádua manteve-se no pódio, em 3° lugar.
Ainda na função de gestora municipal de educação atuou dinamicamente na UNDIME – RJ, como Secretária de Articulação. Enquanto nos Fóruns promovidos pela União dos Dirigentes Municipais de Educação os participantes ficavam liberados às 22 horas, após o encerramento das pautas noturnas, ela passava para outra etapa da programação: a reunião dos membros do Conselho da UNDIME, que varava madrugada adentro. Isso justifica, dentre outras coisas, seu famoso bordão “de meia-noite às duas”.
Receita Criativa, Prêmio Professor Nota 10, Xadrez Gigante, Formação Continuada dos Professores e Pessoal de Apoio, Jornadas Pedagógicas, Giroletras, Folclore, Desfile Cívico-Comemorativo, dentre tantas atividades, também comprovam a grandeza mencionada no início deste memorial. Enfim, não quero cansar os ouvintes enumerando todas as qualidades e feitos, mas estejam certos que são vastos e de muito valor.
Se muito a Profª Vera tem a agradecer à terra em que nasceu - a cidade do areião de sua infância e hoje das águas e das pedras -, mais ainda lhe deve Santo Antônio de Pádua em gratidão, por ela amar e honrar o solo paduano em todo o território nacional e também fora dele. Desde 2006 é membro efetivo da APLAC – Academia Paduana de Letras, Artes e Ciências, mantendo-se em atividade até os dias atuais.
Pelo pouco que se declarou e pelo muito que se omitiu neste memorial, podeis ter uma certeza Profª Vera Lúcia Kezen Camilo Jorge - és uma vencedora! Teu legado encontra-se impregnado na história paduana e dignifica esta medalha, instituída pelo Conselho Municipal de Educação. Ser indicada a receber tal honraria, junto com tantas outras, como a Medalha de Mérito Legislativo Maria Azevedo Gonçalves – Mariquinha Cebola, Medalha Frederico de Alvim Padilha e Troféu Carlos Drummond de Andrade, representa um ato de consideração à memória de sua contemporânea e amiga Profª Maria Thereza Caldas Vellasco. Obrigada! Muito obrigada por dividir conosco esse momento de reconhecimento e gratidão.
Ainda parafraseando Bilac, teu suor fecundou o solo. Vê pago o teu esforço... Sejas feliz!
******************************************************************
Em tempo: coincidentemente a Profª Vera ocupou a cadeira Olavo Bilac no período que fez parte do Conselho Municipal de Cultura, entre os anos de 1975 e 1978.



(Escrito por Alessandra Barros Cretton, a partir de informações fornecidas pela própria homenageada, em questionário).

Um comentário: