terça-feira, 18 de outubro de 2022

Escolhas, decisões e o nosso direito de errar, por Louise Madeira.

#02 Escolhas, decisões e o nosso direito de errar (09/08/2019)

Louise Madeira, Psicóloga, Podcast New Me.

Nesta fala a psicóloga introduz o tema esclarecendo que seu objetivo é trazer leveza para uma prática cotidiana que considera inevitável, que é a tarefa de fazer escolhas e tomar decisões.

Temos a tendência em colocar muito peso sobre isso e em sua prática clínica percebeu o quanto a terapia ajudou as pessoas a tirarem esse peso e a considerarem que tomar decisões e fazer escolhas pode ser algo mais leve, mais organizado, estruturado e passível de ser gerenciado, para que a vida não fique pesada, já que temos que tomar tantas decisões e fazer tantas escolhas.

Sempre viu as pessoas usarem escolhas e decisões de forma aleatória e tem uma teoria pessoal que diferencia os dois conceitos, as duas ideias. Escolha é quando as opções estão postas num tempo. Cita como exemplo o fato de estar usando uma blusa cinza. Ao comprá-la, escolheu dentre as quatro opções que tinha. Naquele momento de escolha, tinha a consciência que estava levando uma e abdicando das outras, porque estavam todas dispostas ali. Um outro exemplo é o cardápio de um restaurante. Ao ler as opções e fazer escolhas tem consciência das variáveis que estão postas naquele momento, naquele tempo e é capaz de avaliar o que vai perder, o que vai comer. 

O conceito de decisão é mais complexo e tranquilizador, porque a decisão tem outras implicações, outras variáveis, que não dependem apenas do sujeito. Não é necessário analisar tudo para que se tenha a convicção que está tomando a decisão correta e adequada. Pode escolher a decisão que naquele momento é a mais útil, mais sensata, mais ética, mais adequada, mas não a certa e definitiva, a sentenciadora de que as consequências serão dolorosas e inevitáveis. Não! Isso não! Essa ideia vem da nossa infância. Relembra sua mãe que tinha uma pergunta muito fatal: "tem certeza? Olhe... Olhe..." Sob essa pegada, nessa perspectiva, tinha que tomar a decisão certa; ai se não fizesse... Iria amargar as consequências terríveis de um negócio chamado arrependimento, que naquele tempo parecia ser a morte. Isso é cruel!

O arrependimento é potencialmente a consequência de toda decisão. 

Toda decisão traz na sua estrutura o potencial de arrependimento. Então, quando alguém questiona se arrependeu de ter feito, pode-se pensar "não, mas eu posso me arrepender de não ter feito". 

Não tem a ver com a decisão que se toma. Tem a ver com o fato de tomar decisões. O arrependimento é uma contingência do fato de decidir. Porque se decide, pode-se arrepender-se. O arrependimento não é um fantasma absurdo que nos sonda o tempo todo. É uma grande possibilidade e é possível vivê-lo.

Traz um exemplo pessoal muito sensível: quando a filha que hoje está com 38 anos tinha apenas 02 anos, ela e o marido decidiram que ele faria vasectomia. Tinham pouco tempo de casados e ele estava com 26 anos. O médico ficou chocado e disse: "vocês são jovens, têm dois filhos apenas, podem se arrepender, vão para casa e pensem". Chegaram à conclusão que se viessem a se arrepender, ficariam arrependidos. A decisão foi tomada e foi muito libertador não se preocupar com gestação no começo de um relacionamento. A decisão foi funcional. Mas poderia não ter sido. Ao serem perguntados: "fizeram vasectomia quando bem jovens, e aí?" Poderiam responder: "Aí nós nos arrependemos". "E o que aconteceu?" "Nada, ficamos arrependidos". 

A simplicidade de lidar com o arrependimento é fundamental para que as decisões e escolhas não sejam tão dolorosas. Principalmente as decisões, já que as escolhas têm um reflexo mais imediato, a curto prazo.

Os pequenos arrependimentos cotidianos ou os grandes arrependimentos são um direito de cada um. A maioria de nós sofre de uma saudade incurável de como poderia ter sido. 

Como poderia ter sido? Não fazemos ideia! Porque quando se escolhe um caminho, o outro caminho não fica parado, estático, esperando... O ponto de partida da decisão vai embora conosco. Entre A e B, se tomamos a decisão por A, o B não está mais ali... É preciso respeitar quem éramos quando tomamos aquela decisão. É uma riqueza biográfica, que ela considera poética. Tomamos a decisão porque éramos o que éramos na época.

Toda pessoa honesta e inteligente vai dizer que tem arrependimento de como fez e vai ter uma forma melhor de fazer depois. 

Quando tinha 40 anos pensou: "agora sim, estou preparada para ser mãe" (havia sido mãe aos 23 anos). Imediatamente pensou que aquilo seria óbvio,  pois teve 17 anos de estágio.

Essa sensação de que não estamos prontos, que podemos nos arrepender, é totalmente conciliável com a vida, administrável. A vida é um fluxo onde construímos nossa história com arrependimentos, com a convicção que as decisões nos fizeram aprender e temos muito mais condições de inaugurar ciclos novos, novos fluxos, sem chamar de erro ou equívoco. 

É possível construir uma história fluida, na qual é possível sentir leveza de decidir o que parece mais próprio ao momento e refazer nos momentos seguintes, quando eles chegarem em nossa vida.


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