sábado, 21 de março de 2015

Prelúdio

Antes de morrer quero merecer voltar no tempo. E só percorrer as doces lembranças. Quero deitar para dormir e perceber que estou a vagar pelas dobras do tempo, como num sonho; porém um sonho real que me leva de volta à estrada de chão dos domingos à tarde, quando voltava da casa de minha avó. Minha solidão infantil era povoada de sonhos vindouros e olhos atentos às florezinhas da estrada.
Quero o cheiro da chuva. O mesmo ar... E a indecifrável segurança do regaço materno, que não importa o lugar - bom ou ruim, rico ou pobre, com mesa farta ou ausência do pão - nos proporciona o sono leve, tranquilo, seguro. Só porque ela está ali...
Quero os sabores. O caminhar pelas ruas da mocidade. E a ingenuidade da mocidade.
Quero perceber-me leve e de todo tão afastada do meu entorno, que vou sentir despir-me do corpo e partir, acompanhando uma mão amiga que veio buscar-me. Como a livrar-me de uma roupa que não me serve mais e, por isso mesmo, sem sofrimento, sem dor.

Crédito da imagem: Vida Simples

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