Por: Alessandra Barros Cretton
Leia, reflita e elabore uma RESENHA sobre o artigo: “PSICOLOGIA SOCIAL
E PROCESSO GRUPAL: A COERÊNCIA ENTRE FAZER, PENSAR E SENTIR EM SÍLVIA LANE”
O
objeto de estudo ora apresentado trata-se de um artigo de Sueli Terezinha
Ferreira Martins, doutora em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade
Católica (PUC) de São Paulo, aceito em 2007, que discorre sobre as contribuições
de Sílvia Lane para a formulação de concepção e propostas de análise do processo
grupal. Em suas referências, elenca quatorze obras da pesquisadora, sistematizadas em artigos, coletâneas e livros, que delinearam uma teoria
dialética do processo grupal, agregada no decorrer do tempo e de suas
experiências de pesquisa - na disciplina “Processos Grupais” que ela ministrava
na PUC; no diálogo com vários colegas da Psicologia Social brasileira e
latino-americana, somado às contribuições de outros estudiosos como Martín-Baró,
também citado nas referências.
A autora destaca que o artigo Uma redefinição da
Psicologia Social na revista Educação &Sociedade (1980) e o livro O que é
Psicologia Social (1981) representam um marco na história da Psicologia Social
brasileira e latino-americana, apresentando-nos Lane como pioneira da Psicologia
Social crítica no Brasil. Os dois trabalhos mencionados já explicitam seu
posicionamento ético-político, confirmado, mais adiante no livro Psicologia
Social: O homem em movimento (1984), quando Lane reafirma que “caberia à
Psicologia Social recuperar o indivíduo na intersecção de sua história com a
história de sua sociedade – apenas este conhecimento nos permitiria compreender
o homem enquanto produtor da história” (p.13). É nesta mesma obra que a autora
extrai um capítulo intitulado "O processo grupal", enfatizando que o artigo discorre
fundamentalmente sobre esse texto. Ao realizar uma revisão de diferentes teorias
sobre grupo, Lane encontrou duas posições diferentes: a primeira defendia que a
função do grupo seria apenas a de definir papéis e, por consequência, implicaria
garantir a produtividade dos indivíduos e grupos através da manutenção e
harmonia das relações sociais; a segunda enfatizava o caráter de mediação do
grupo, prevalecendo a preocupação com o processo pelo qual o grupo se produz,
considerando as determinações sociais presentes nas relações grupais. Ao falar
sobre processo grupal (e não grupo ou dinâmica de grupo), Lane se posiciona,
trazendo para o centro da discussão o caráter histórico e dialético do grupo,
que se constrói num determinado espaço e tempo, fruto das relações que vão
ocorrendo no cotidiano. É preciso afirmar que um grupo não se baseia apenas em
reunir pessoas que compartilham normas e objetivos comuns; antes, é preciso
compreender o sentido de relações e vínculo entre pessoas com necessidades
individuais e/ou interesses coletivos. Nesta ótica, o grupo é uma estrutura
social, uma realidade total, um conjunto que não pode ser reduzido à soma de
seus membros. O processo grupal, assim como qualquer vivência humana, implica
relações de poder e práticas compartilhadas e, ao se realizar, desenvolve sua
identidade. Lane destacou duas dimensões, neste sentido: a externa, relacionada
com a sociedade e/ou outros grupos; e a interna, vinculada aos membros do
próprio grupo, em direção à realização dos objetivos que levem em consideração
as aspirações individuais ou comuns. Além de destacar essas dimensões, com a
concepção histórica e dialética de grupo, Lane traz algumas sugestões para
análise do indivíduo inserido no processo grupal: a primeira é o fato de
considerar que “o homem com quem estamos lidando é fundamentalmente o homem
alienado” (p.84); a segunda é que devemos considerar que todo grupo ou
agrupamento existe sempre dentro de instituições (família, fábrica,
universidade, Estado) e ainda podemos destacar uma terceira, que ressalta que a
história de vida de cada membro do grupo tem importância fundamental no
desenrolar do processo grupal. Alguns questionamentos foram colocados por Lane
aos psicólogos sociais, indicando o caminho da construção de uma teoria
dialética de grupos – que talvez justifique “a coerência entre o fazer, pensar e
sentir”, proposto por Sueli Martins, no título do artigo, objeto desta resenha.
Convém salientar, ainda, que Lane pensou na linguagem como elo fundamental entre
indivíduo e sociedade, já que “ao mesmo tempo em que ela (a linguagem) é um
produto social, também é uma forte ‘determinante’ da ação” (1980a, p. 69). “ O
homem fala, pensa, aprende e ensina, transforma a natureza; o homem é cultura, é
história...” (1984b, p.12).
Um olhar mais esmiuçado consegue identificar no
artigo o “fazer” quando Lane propõe que as relações não devem ser de dominação
de uns sobre os outros, mas que identifiquem necessidades comuns a serem
satisfeitas, através de atividades planejadas em comum e que impliquem ações de
vários indivíduos; o “pensar” quando ela traz para a discussão o papel
determinante do processo grupal para a superação do individualismo arraigado, da
superação necessária para a realização de um trabalho comunitário que busque o
desenvolvimento da consciência social e da autonomia dos indivíduos; e, por fim,
o “sentir” quando afirma que com o poder que temos, podemos humilhar ou
valorizar o outro. Podemos impedir seu crescimento como ser humano, ou
contribuir para que tal aconteça. Sabendo como exercer esse poder, saberemos
respeitar o poder dos outros. No entanto, deixando de lado esse olhar
cartesiano, podemos concluir que fazer/pensar/sentir se misturam em sua obra,
desde a década de 1960, ganhando produção mais significativa nas décadas de 1980
e 1990; e que Sueli Martins, embora faça questão de frisar, em suas
considerações finais, que não objetivou uma análise exaustiva dos textos em que
o processo grupal aparece na obra de Sílvia Lane, também conseguiu ser coerente e delinear uma visão geral sobre a Psicologia Social e Processo Grupal
na bibliografia da autora destacada.
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