terça-feira, 12 de agosto de 2014

Entre o deleite e a reflexão

De "A insustentável leveza do ser"
Milan Kundera.

Terceira parte: As palavras incompreendidas

  • "Enquanto as pessoas são ainda mais ou menos jovens e a partitura de suas vidas está somente nos primeiros compassos, elas podem fazer juntas a composição e trocar os temas. Mas quando se encontram numa idade mais madura, suas partituras musicais estão mais ou menos terminadas, e cada palavra, cada objeto, significa algo de diferente na partitura do outro".
  • "Aquilo que não é consequência de uma escolha não pode ser considerado mérito ou fracasso".
  • "A fidelidade é a primeira de todas as virtudes, a fidelidade dá unidade à nossa vida, e sem ela, iria estilhaçar-se em mil impressões fugidias".
  • "A música é libertadora; ela o liberta da solidão e da clausura, da poeira das bibliotecas e abre-lhe no corpo as portas por onde a alma pode sair para confraternizar-se".
  • "É um círculo vicioso. As pessoas tornam-se surdas porque colocam a música cada vez mais alto. Mas, como se tornam surdas, não lhes resta mais nada senão aumentar o volume".
  • "O barulho tem uma vantagem. No meio dele não se ouvem as palavras".
  • "Numa sociedade rica os homens não tem necessidade de trabalhar com as mãos e se dedicam a atividades intelectuais. Existem cada vez mais universidades e cada vez mais estudantes. Para obter o diploma, é preciso que eles encontrem temas de dissertação. Existe um número infinito de temas, pois pode-se falar sobre tudo e sobre nada. Pilhas de papel amarelado se acumulam nos arquivos, que são mais tristes do que os cemitérios, porque não vamos a eles nem  mesmo no Dia de Finados. A cultura desaparece numa multidão de produções, numa avalanche de sinais, na loucura da quantidade".
  • " É verdade, há livros para serem lidos de dia, e outros que só podem ser lidos à noite".
  • "A meta que perseguimos é sempre velada. Uma moça que deseja um marido deseja uma coisa que lhe é totalmente desconhecida. O jovem que corre atrás da glória não tem nenhuma ideia do que seja a glória. Aquilo que dá sentido à nossa conduta sempre nos é totalmente desconhecido".
  • "Se tivessem ficado juntos mais tempo, talvez pouco a pouco as palavras de um tivessem começado a ser compreendidas pelo outro".
  • "Ele tinha mais ou menos doze anos quando um dia ela se viu só, tendo sido abandonada subitamente pelo pai de Franz. Este suspeitava que alguma coisa de grave havia acontecido, mas sua mãe dissimulava o drama com palavras neutras e medidas para não traumatizá-lo. Foi nesse dia, quando saía do apartamento para juntos darem um passeio pela cidade, que Franz notou que sua mãe estava com sapatos de pares trocados. Ficou confuso, quis avisá-la, temendo ao mesmo tempo magoá-la. Andou com ela duas horas pelas ruas sem poder despregar os olhos de seus pés. Foi então que começou a ter uma vaga ideia do que significava sofrer".

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