quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Entre a poesia e a erudição

De "Livro das Horas"
Nélida Piñon

  • "Levo no rosto uma história curtida e que me ajuda a envelhecer. Não vivi sem resultados, minha vida não foi inóspita."
  • "A beleza, a esta altura, não me lisonjeia. Opto por ser a heroína das ideias e das ações que desenvolvi, em especial por me haver submetido ao que o corpo e a imaginação me ditaram."
  • "Sofro do acúmulo de vida que dizima a gente da minha espécie."
  • "Peregrino pelo bairro, rastreio-lhe a vida. Imito os demais que se precipitam na rua ansiosos por quebrar os grilhões do lar."
  • "... evito ser conclusiva no que diz respeito ao cotidiano. Afugento qualquer pretensão filosófica que dificulte o trato com as coisas simples."
  • "Tenho razões de amar a vida diária, de sorrir por conta da minha banalidade."
  • "Chamam-me ao celular, um número praticamente privado. Monótona voz de mulher oferece-me novas tecnologias vinculadas à assinatura, como se meus vazios interiores necessitassem de imediata ocupação. Com que direito aquele timbre de falsete da funcionária invade o tempo que ainda me resta para viver?"
  • "No mercado, ainda, admito ser a vida feita de tréguas, ora difíceis, ora encantatórias. E que nem sempre os apelos ouvidos de fora equivalem ao chamado de Deus."
  • "As sacolas de compras, organizadas na mala do carro, expressam meu conceito de abundância. E enquanto a carteira de notas se esvazia, entrego-me aos afazeres inexpressivos a fim de que a geladeira abarrotada alimente meus sonhos diários."

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