sexta-feira, 10 de outubro de 2014

À memória do nosso Bo.

Tecendo a Manhã
João Cabral de Melo Neto

"Um galo sozinho não tece a manhã:
ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro: de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzam
os fios de sol de seus gritos de galo
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos, 

no toldo (a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão". 


Estou triste, muito triste.
Tudo isso se reveste de um significado
mas que por ora não irei escrever.
Hoje, vou ficar de luto.
Hoje, pendurei o galo na varanda dos fundos,
Em sua homenagem,
Em respeito à minha dor.
Perdoa-me.
E, obrigada por ensinar-me, 
com sua vida, 
mais uma lição.
São Francisco o receba nas esferas de luz,
Onde a dor não existe.
E, se um dia eu fizer por merecer,
Venha encontrar comigo, com a mesma alegria
Com o mesmo andar, o mesmo olhar...
Não fiz por te merecer.

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