Memorial Denilson Parreira dos Reis e Sheila Ribeiro Martins dos Reis – 4ª edição/2021
A
sabedoria popular criou o provérbio em que diz: “atrás de um grande homem há
sempre uma grande mulher”. No entanto, a própria sabedoria é dinâmica, e, felizmente,
pode mudar de acordo com os avanços e conquistas da sociedade. Então, num
contexto em que se defende a igualdade de direitos, a valorização do humano,
independente de gênero, raça, crença, podemos ressignificá-lo com a mudança do advérbio
“atrás”, recriando um novo sentido: “ao lado de um grande homem há
sempre uma grande mulher”. Esse novo sentido é que será considerado, neste
Memorial.
O
casal Denilson Parreira dos Reis e Sheila Ribeiro Martins dos Reis (in
memoriam) serão homenageados, na noite de hoje, com a Medalha Thereza
Caldas.
Eles
se conheceram em uma Festa dos Estudantes no Colégio Caribé da Rocha, em agosto
de 1990. Depois de “idas e vindas”, em janeiro de 1994 firmaram um compromisso
de permanecerem juntos, ficando noivos no mês seguinte. Ainda em dezembro do
mesmo ano uniram-se em matrimônio, constituindo uma família. São pais de João
Pedro Ribeiro Martins dos Reis e Ana Sophia Ribeiro Martins dos Reis.
Desde
cedo, perceberam que unidos tinham uma grande força, uma cumplicidade que se
transformava em capacidade de realização, além das fronteiras de um lar.
Foi então que decidiram aceitar o convite para residirem em Baltazar e
assumirem a direção da Escola Municipalizada Teófilo de Melo. Ele,
diretor-regente. Ela, professora das turmas multisseriadas.
A
escola, ainda pequena em número de alunos, foi crescendo à medida que os
projetos eram realizados. A estreita relação com as famílias e a comunidade
garantiu grande êxito nas ações. Ainda no início do ano letivo, as famílias
eram chamadas, em reunião, para conhecerem o Projeto Político Pedagógico da
escola, e, na oportunidade, recebiam um informativo com as normas da escola e a
relação de contéudos que seriam estudados em cada série. Era uma maneira de firmar
um pacto de cuidado e aprendizado, com aquelas famílias. Ao longo do ano,
palestras com diversos visitantes, reuniões para apresentação de resultados,
festividades em datas comemorativas, estreitavam ainda mais esses laços,
reforçando a qualidade do ensino e os resultados obtidos com as crianças. Os
anos seguintes serviram para aumentar o número de alunos e, com isso, a
necessidade de mais professores. Com o tempo, a escola funcionava com um
professor para cada turma, atendendo à demanda de alunos. Uma estrutura física
enorme que abrigava um projeto de escola acolhedor, alegre, comprometido com a
promoção humana. As frequentes reuniões pedagógicas aconteciam em clima de
muito entusiasmo; as professoras sempre receptivas para novas práticas.
Implantaram o diário de bordo em cada turma, incentivando a escrita diária; utilizavam
o texto dos próprios alunos nas atividades avaliativas e provas, como forma de
valorização da produção individual; os trabalhos sempre expostos nas paredes,
em varais espalhados por todo o espaço escolar. As festas de fim de ano para
comemorar a conclusão do 1° ano – antiga classe de alfabetização, e 5° ano não
deixavam em nada a desejar, em comparação com as festas de renomadas escolas do
centro da cidade. O antigo salão da estação ferroviária daquele distrito muitas
vezes serviu de palco para grandes comemorações.
Há
que se antecipar uma observação, nesta narrativa, para destacar uma
característica muito peculiar nas atividades do casal, raramente vista em
outras situações semelhantes: a capacidade de aliar bons resultados a grandes eventos.
Na
condição de professora, Sheila era a primeira a colocar em prática as inovações
pedagógicas como a interdisciplinaridade, o trabalho com projetos, formando ao
redor de si, um círculo de confiança, que afetava positivamente a prática das
demais colegas.
Denilson
e Sheila sempre chegavam a um comum acordo nas ações, ainda que inúmeras vezes
as naturais discussões se prolongassem além dos horários escolares.
É
importante ressaltar que o sucesso na Escola Teófilo de Melo permitiu ao casal
ganhar visibilidade na rede municipal de ensino e, por conta disso, em 2002, eles
foram convidados a assumir a criação da Escola Municipal Viva, idealizada pela
então secretária, Profª Vera Lúcia Kezen Camilo Jorge.
Em
11 de março de 2002, o casal adentrava nos espaços de uma antiga casa adaptada
(onde anteriormente funcionou o Colégio Paulo Freire), sem nenhuma arquitetura que
lembrasse uma escola, para fundar a Escola Municipal Escola Viva. Com
uma equipe de 06 professores, 04 serventes e 30 alunos deram início ao
projeto educacional público mais reconhecido de Santo Antônio de Pádua desde
que foi implantada a municipalização do ensino, em 1989.
Em maio do mesmo ano idealizaram uma festa para as mães, objetivando conquistar
a participação das famílias, como faziam nos tempos de Baltazar. “Foi o
primeiro passo”, afirma Denilson. Em junho foram convidados a participar do
tradicional Desfile Escolar. Com poucos alunos seria improvável fazer algo que
agradasse toda a comunidade. Foi então que surgiu a ideia de levar à rua
direita o tema “Família e Escola de mãos dadas”. Foi um sucesso! A partir daí
aumentou a procura por vagas na escola e o ano letivo de 2002 finalizou com 170
alunos matriculados da Educação Infantil ao 5° ano.
No
ano seguinte, por iniciativa da secretária Vera Kezen, a escola começou a
ofertar o ensino até o 7º ano do Ensino Fundamental. As professoras Gislaine,
Francine, Rosane Ribeiro, Patrícia Viana, Aparecida Parreira e Ludmila foram as
pioneiras nesse segundo segmento do Ensino Fundamental. “Confesso que a ideia
me assustava um pouco. As responsabilidades aumentaram muito. Não podíamos
decepcionar. Fracassar era um verbo riscado do nosso cotidiano”, nos
confidencia Denilson.
Em
2003, para a Festa Junina, fecharam a Rua Prefeito Alberto Vaz, iniciando as
atividades com um almoço, onde foram vendidos 1.200 ingressos, e terminando à
noite, com o show do Pedro Garcia e banda. Foi um sucesso o evento! Chamou
tanto a atenção que nos anos seguintes foram proibidos de fazer na rua, por
conta de atrapalhar o trânsito por muitas horas.
Tendo
a ousadia como marca registrada, levou aos desfiles escolares o azul dos
uniformes e daquela fumacinha enquanto a escola passava; as diversas fantasias
e encenações. O desfile de 2006 foi memorável! O tema foi sobre a Copa do Mundo e
ficou destinado à Escola Viva falar sobre a “A segunda guerra mundial”, fato
que comprometeu a realização da Copa do
Mundo daquela época. O sucesso foi estonteante! Aplausos, choro...
reconhecimento.
A
primeira festa da criança foi em Paraoquena. Que sufoco! Nos anos seguintes a
equipe decidiu que as festas seriam realizadas no campo do Paduano, facilitando
a organização e a logística. A partir daí, as comemorações cresciam a cada ano,
com jogos, torneios, gincanas, brincadeiras, brinquedos variados como
pula-pula, escorrega, etc.
Veio
então o JESAP – Jogos Estudantis de Santo Antônio de Pádua, assim relembrado
pelo diretor: “No primeiro ano perdemos em todas as categorias inscritas, mas
nos inscrevemos em todas as categorias existentes. Dizíamos a nossos alunos:
quem veste a camisa azul é mais forte.”
Em
2004, a Secretaria de Educação decide ampliar o segundo segmento até o 9° ano,
completando assim todo o Ensino Fundamental. Novos alunos, novas mentes, novos
desafios...
Em
2006 a escola começou a participar da OBMEP – Olimpíada Brasileira de Matemática
para as Escolas Públicas e já em sua primeira participação, um aluno recebeu a
Menção Honrosa. No entanto, desejava mais e, nos anos seguintes os professores
de Matemática, incentivados pela direção, iniciaram um trabalho de preparação
dos alunos com questões extras, tira-dúvidas, incentivo à participação na
Olimpíada, e os resultados não tardaram a chegar. A primeira Medalha de Bronze veio com o aluno
Samir Rocha Aleixo, em 2007. Nos anos seguintes a escola aumentava sua
participação no quadro de medalhas e Menção Honrosa, mas foi em 2010 o grande feito: a escola
destacou-se na região com a primeira Medalha de Ouro da região Norte e Noroeste
do Estado do Rio de Janeiro, conquistada por um aluno do 6° ano da Escola Viva
- Daniel Cretton Carvalho. “Momento de
êxtase para a Viva. Fomos levar nosso aluno para receber a Medalha das mãos da
então presidente Dilma Roussef. Não cabíamos em nós de tamanha felicidade!” relembra
com orgulho nosso homenageado. E não é
por menos: de 2006 a 2012, foram 32 menções honrosas, 1 medalha de ouro, 1
medalha de prata e 5 medalhas de bronze, 1 troféu como escola-destaque no
Estado do Rio de Janeiro, além da professora Aparecida Parreira, que também foi
premiada.
Com
o pensamento e o coração ligados ao desejo de construir uma educação de
qualidade em Santo Antônio de Pádua, o casal unia-se em diversas ações. Iremos
destacar algumas, dentre as inúmeras que nos levariam a escrever páginas e
páginas neste Memorial. Como incentivo à leitura, a escola promovia o Projeto
Viva Lendo, no qual os alunos iam à Casa de Saúde e praças públicas oferecer um
pouco da viagem que a leitura de livros proporciona. Havia também um dia na
semana dedicado à leitura compartilhada e, quando em determinado horário o
diretor acionava a campanhia (que às vezes era substituída pelo bater de
panelas e tampas) todos já sabiam: hora da leitura. Os alunos levavam alguma
leitura de casa; o professor sempre tinha algo na bolsa... enfim, o incentivo à
leitura e escrita era pulsante nos espaços da Viva. Mas a Matemática não ficava
atrás e ela não acontecia apenas em função da OBMEP. O incentivo à prática do
xadrez e jogos variados era uma rotina. Em sua primeira Olimpíada de Xadrez, o
vencedor levou o troféu e uma bicicleta novinha, fruto das inúmeras parcerias. Vinham
as Olimpíadas de Astronomia, de Física, da Língua Portuguesa, de Geografia e a
Escola Viva marcava sua participação. Todas as áreas do conhecimento humano
eram muito valorizadas. Podemos destacar: Soletrando; Feiras Literárias, Científicas e
Comemorativas; Proerd; Programa Bombeiro Mirim; Garota e Garoto Viva (com
participação depois no Intercolegial); Viva Fantasy; Show de Calouros; Show de
Talentos; Concurso de danças; Concurso de Cartazes; Projeto Solidariedade - com
doação de cestas básicas à famílias necessitadas; viagens à Bienal do Livro, à
Alerj; excursões a diversos Museus, Parques Ecológicos, praias; prêmio DENATRAN
de Educação no Trânsito; prêmio “Professor Nota 10” com três professoras
premiadas; prêmio Receita Criativa, com uma merendeira vencedora; concurso de
redação no Giroletras (premiados em cinco anos consecutivos); diversos alunos
aprovados em escolas técnicas federais; JOIVIVA (Jogos Internos, como prévia
para o JESAP); Coral Viva; Dia do Desafio; Festivais (de pipoca, pastel,
hamburguer); enfim, um sem-número de atividades enriquecedoras e
interdisciplinares que garantiam, ano a ano, a qualidade do ensino ofertado
pela escola.
E
como quem planta, colhe em mancheias, o reconhecimento veio através do
resultado do IDEB de 2009. O 5° ano ultrapassou a meta prevista, conquistando
6,2 na média, e o 9° ano ficou em 6° lugar no Rio de Janeiro. Resultados, que,
somados às demais escolas da rede, colocaram o município de Santo Antônio de
Pádua em 1° lugar no pódio da Educação no Estado do Rio de Janeiro. Uma
alegria! Toda a rede com a auto-estima elevada, professores reconhecidos. Uma
escola Viva pulsante e afinada. A rede Globo contactou a Secretaria de Educação
e veio a Pádua conhecer o trabalho da Escola Viva. Em 11 de julho de 2010 o
Canal Futura, emissora afiliada à Rede Globo, transmitia o programa Globo
Educação, com as práticas e resultados da Escola Municipal Viva.
Esse
capítulo no livro da educação paduana foi escrito pelo Casal Denilson/Sheila,
que hoje recebe nossa homenagem e gratidão através da Medalha de Mérito
Educacional Profª Thereza Caldas. Há quem queira apagar as histórias... Há quem
queira rasgar as páginas do livro... Há quem queira fazer sombra onde há luz...
Há quem queira não dar continuidade aos programas... Há quem queira tanto
personalismo que tem dificuldade em reconhecer a vitória alheia... Mas o solo
fecundado fala por si mesmo. Os inúmeros alunos que alçaram voos em diversos
setores da atividade humana, com as lições gravadas no coração, refletem em
seus campos de atuação, o conhecimento e os valores aprendidos na gestão de
nossos homenageados.
"Quem teve o privilégio
de viver muito, diz Dona Iná, sabe que o tempo é um mestre muito caprichoso. Às
vezes suas lições são tão repentinas que quase nos afogam.”*
Neste 2021, o tempo nos afogou com a despedida de
nossa querida Sheila. Todos os
dias fazemos um grande esforço para nos lembrar que a Terra é local de
caminhada e não moradia. Todos vamos voltar para casa, onde quer que a crença
de cada um estabeleça. O fato é que aqui é estrada de passagem; ninguém fica, e
nossa homenageada conseguiu cumprir sua carreira em menos tempo. Deixou
saudades e inúmeras lembranças, que este Memorial não daria conta de registrar.
“Quem teve o privilégio
de viver muito, nos diz Dona Iná, aprende a olhar com serenidade o turbilhão da
vida. Amores ardentes se extinguem, urgências se acalmam, passos ágeis alentam,
enfim, tudo muda; muda o amor, mudam as pessoas, muda a família; só o tempo
permanece do mesmo modo, sempre passando...”*
Esse tempo que passa nos reuniu na noite de hoje.
Receba, Denilson Parreira dos Reis a medalha n° 15, do Conselho Municipal de
Educação, com reconhecimento e gratidão. Nossas boas energias chegarão à
querida Sheila, onde estiver, envolvendo-a com amor e gratidão!
*Falas da personagem Dona Iná (vivida por Nicete
Bruno) no último capítulo da novela "A vida da gente", em 02 de março
de 2012.
Muito importante toda a trajetória desse casal, sou do RJ e somente há 4 anos moro em Pádua, fiquei muito emocionada com a representatividade de todos os envolvidos na evolução da educação da cidade que adotei para viver, ficam as lembranças e o legado para confortar toda a família, os amigos e aqueles que tiveram o privilégio de fazer parte dessa linda história.
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